sábado, outubro 27, 2007

VEJA Carta ao leitor


Debaixo do capô

Divulgação
JK inaugura a fábrica da Volks no ABC

O motor fica escondido debaixo do capô. Nunca é visto. Mas sem ele o carro não sai do lugar. Interessante paralelo pode ser feito com as reformas institucionais. No fundo, elas são os motores que fazem os países andar. A fotografia que ilustra esta página é muito vista. Ela registra o gesto triunfal do presidente Juscelino Kubitschek ao inaugurar a primeira fábrica de automóveis no Brasil, em 1959, marco zero da industrialização brasileira. Ninguém se lembra de que debaixo do capô do triunfalismo juscelinista se acumulou uma dívida pública que teria inviabilizado não apenas o processo de industrialização mas todo o país, caso ela não fosse atacada pelas reformas impopulares e corajosas feitas anos mais tarde no governo Castello Branco.

Seus autores intelectuais foram Octavio Gouvêa de Bulhões e Roberto Campos. Pouca gente fora da profissão de economia sabe bem o que a dupla Bulhões-Campos fez pelo Brasil. Fotos deles raramente são vistas. Mas eles montaram o motor institucional do país ao criar a Lei do Mercado de Capitais, o Código de Minas, o Estatuto da Terra, um eficiente Código Tributário e, como se isso fosse pouco, o Banco Central.

Uma reportagem desta edição de VEJA mostra que o Brasil de 2007 vive outro momento de euforia consumista em que, mais uma vez, o carro é um de seus símbolos. Nunca no Brasil se produziram e venderam tantos carros. A mesma reportagem revela que o motor institucional que trouxe o país até aqui – e que ganhou octanagem extra nos anos FHC com a entronização da estabilidade econômica como uma conquista nacional – não tem força para impulsioná-lo muito mais longe, em especial quando a bonança da economia mundial passar.

Para avançar será preciso fazer novas reformas institucionais. O ensino básico universalizado vai ter de ensinar para valer. As leis trabalhistas não podem mais significar a duplicação do custo da mão-de-obra. A burocracia oficial não deve mais solapar o ganho que as empresas obtêm em produtividade. Não é mais admissível que os impostos e a infra-estrutura podre de estradas e portos devorem as poucas vantagens comparativas que os produtores brasileiros desfrutam no mercado internacional. A hora de modernizar o motor institucional do Brasil é agora, enquanto os bons ventos sopram.