| O Globo |
| 5/10/2007 |
Fiel ao nome, a Secretaria de Planejamento de Longo Prazo está demorando um bocado para ser criada. Há diferença, além da troca de apelido: como a lei impede a criação de empregos, a pasta será ocupada por funcionários remanejados de outros órgãos federais. Muito curioso: esse pessoal não fará falta em seus antigos postos? Se fizer, o governo estará provocando ineficiência para beneficiar uma atividade da qual, nestes anos todos, não sentiu a menor falta. Se não fizer, quanta vagabundagem, não? Quem examinar mais de perto esse capítulo curioso da atual administração talvez encontre outros motivos para estranheza ou pasmo. Como o fato de que o escolhido para comandar o planejamento do governo Lula seja o mesmo professor de Harvard que há dois anos propôs o impeachment do mesmo Lula, acusando o seu governo de ser "o mais corrupto de todos os tempos". Vai-se ver, o professor não planeja com a necessária prudência o seu próprio futuro a curto prazo. Ou o contrário: ele conheceria o presidente melhor do que muita gente boa. Mudando o foco da especulação, pode-se deduzir que é Lula quem sabe com quem está lidando. E não se preocupa: afinal, de um homem de Harvard que faz política no PRB, partido da Igreja Universal, e se propõe a ser ministro de um presidente que considera merecedor de impeachment, pode-se esperar qualquer coisa. Inclusive, lealdade em troca de status. A curto prazo, serve. Enfim, o governo Lula, ensinam os precedentes, parece ser mesmo o ambiente certo para auxiliares dos quais se pode esperar rigorosamente qualquer coisa. Mas o perfil do novo e certamente extraordinário ministério não deixará de ser motivo de tristeza para o presidente. No novo formato, não haverá contratações. Oba, dirão os contadores de tostões. Uma tristeza, na opinião de Lula. Outro dia, ele defendeu enfaticamente a tese de que "choque de gestão" (expressão que, a rigor, não significa coisa alguma, mas tem cheiro de coisa positiva) só existe com contratações em massa. A premissa correta é outra, claro: a característica indispensável da boa gestão é a eficiência dos quadros, não a sua quantidade. Isso tem ficado suficientemente provado nestes anos de ocupação em massa de cargos públicos por militantes das inumeráveis tendências do PT. E já se sabe que o tal choque existe mesmo: cidadãos que dependem da boa gestão dos órgãos públicos federais andam chocadíssimos. |