Não se esperem grande mudanças na passagem de um Kirchner a outro na Argentina, mas o governo brasileiro se diz otimista. Aposta que a nova presidente -ou presidenta, como ela prefere- aprofundará as políticas do marido no plano interno e terá mais desenvoltura no plano externo. Ou seja: dialogará melhor com o Brasil. Néstor Kirchner assumiu em meio a quedas de presidentes, instabilidade política e caos econômico, mas surpreendeu. Não só conseguiu se segurar no cargo como estabilizou o país e fez a sucessora. Cristina Kirchner chega em condições bem melhores para maior desenvolvimento, industrialização e distribuição de renda. No primeiro mandato do casal, a Argentina aproximou-se ostensivamente de Hugo Chávez, como fica evidente nas reuniões de presidentes da região -isto é, quando Kirchner resolve aparecer, o que não é sempre. Mas foi um movimento pragmático, já que Chávez comprou títulos da dívida da Argentina, uma mão na roda. Desde a campanha, Cristina esteve muito mais para Lula do que para Chávez, e ela levou e deixou boa impressão de Brasília, reiterando que, para onde forem Brasil e Argentina juntos, a América do Sul irá. Na pauta bilateral, as áreas nuclear, espacial, aeronáutica e indústria de defesa em geral. A pergunta inevitável é se a eleição de Michelle Bachelet no Chile e agora de Cristina Kirchner na Argentina poderá ter reflexos no Brasil. Qualquer resposta seria chute, mas há dois dados de análise: 1) o continente vive de ondas desde a populista, a militar, a neoliberal até a atual, dita de esquerda. Mulheres presidentes são a nova onda? 2) num cenário com um presidente forte como Lula e um partido sem candidatos como o PT, Dilma Rousseff é um nome. Por que não? A hora, porém, é de desejar sucesso para Bachelet e Cristina, e não apenas por serem mulheres. |