BRASÍLIA - Depois dos dois piores acidentes aéreos da história brasileira e de dez meses de caos aéreo, o presidente da República alegou que não sabia, que estava mal-informado. Então, é melhor deixar o Aerolula um pouco de lado, tirar a faixa presidencial, pegar a dona Marisa e fazer uma viagenzinha de avião por aí. Vai ficar bem-informado. E muito mal-humorado.
Descobrirá que as companhias atrasam e juntam vôos ao seu bel-prazer. Que a Anac não existe, logo não fiscaliza nada. Que a Infraero registra nos painéis vôos atrasados como se estivessem no horário. Que há longa espera já dentro do avião.
Que a entrega de bagagem virou uma nova tortura. Que o passageiro decola para Congonhas e só descobre que vai para Guarulhos, ou seja para onde for, no meio do caminho. Se reclama, vem o círculo da culpa: as companhias culpam a Infraero, que culpa a Anac, que culpa as companhias. E ninguém faz nada.
Você se programa para jantar com a família às 22h, mas chega em casa às 2 da manhã. E faminto!
Quem viaja muito não agüenta mais barrinha de cereal ou pão. Pão no aeroporto, pão no avião. E tome de refrigerante e suco! O Ministério da Saúde adverte: viajar faz mal à saúde e... engorda.
Passageiro de avião não recebe o Bolsa Família, não é dono de banco nem empresário multinacional, quer dizer, não é voto fechado em Lula. Pode ou não votar nele. Mas, presidente, ele também é cidadão e filho de Deus. Trabalha, desconta imposto, paga tarifas que vêm aumentando e tem direito a um serviço digno. O atual é indigno.
Quando o sr. e dona Marisa estiverem na fila do check-in, na fila da segurança, na fila do pão, na fila de embarque, na fila da bagagem e, por fim, nas duas filas dos táxis (uma para pagar, outra para entrar), o sr. vai se perguntar: afinal, o que mudou com Jobim, que se diverte com micos e jararacas na Amazônia?
No caos aéreo, não falta só ministro. Falta governo, presidente.