segunda-feira, outubro 22, 2007

Do vício e da virtude Antonio Sepulveda


O articulista se perde em meio aos laivos de intriga, mendacidade, prevaricação e mentira que estercam a paisagem humana da praça dos três poderes. Fica difícil a escolha de uma abordagem para a coluna, tamanha a repugnância à falência moral de significativa parcela de nossos políticos e magistrados. Dói na carne e na alma o dever de apontar as reincidências de tanta canalhice e, ao mesmo tempo, deixar transparecer ao leitor que, apesar da vilania, da indignidade, aqueles dejetos são absolutamente indispensáveis à democracia.

Péssimo com eles, pior sem eles, porquanto a alternativa seria o totalitarismo em qualquer uma de suas formas hediondas. Por incrível que pareça, é melhor ter um congresso de Mercadantes, Renans, Sarneys e cambada do que parlamento nenhum; será sempre preferível um presidente desarticulado e semi-analfabeto, porém submisso aos ditames do estado de direito, a qualquer déspota esclarecido.

A solução mais aceitável está na escolha rigorosa dos candidatos na hora de votar. Só quando banirmos definitivamente essa corja que se apossou do Brasil — ainda que o processo seja longo e penoso — poderemos sonhar com governantes sensatos e operosos, legisladores íntegros e diligentes e juízes com honestidade de propósito e discernimento para enxergar a diferença entre direito e justiça.

Somente com almas escrupulosas a guarnecerem o leme, será possível guinar francamente para o rumo da educação, da saúde e do progresso. Eleitores saudáveis, ilustrados e, sobretudo, bem-intencionados não costumam eleger essa caterva que aí está a nos roubar, a nos humilhar e a abusar de nossa paciência. Quem consegue imaginar um homem de bem a defender, com unhas e dentes, a torpeza de Renan Calheiros ou a degeneração dos quarenta ladrões palacianos?

Enquanto imaginamos como seria o Brasil se fosse cuidado por pessoas honradas, buscamos estímulo em bons exemplos como o do lavrador Joaquim Elpídio Madureira, um baiano aposentado de Batatais, SP, que, do alto de seus 92 anos, nos dá uma aula de perseverança, de dignidade e de entendimento da infinita importância de uma educação formal. Há seis anos, incentivado pela família, ele decidiu voltar aos bancos escolares, e uma neta o matriculou no supletivo. Completou o curso e celebrou a conquista ao lado da família e dos amigos.

Sobre o avô e bisavô de trinta netos e bisnetos, Vera Alice, a filha mais velha, confirma a paixão do pai pelos livros: “O estudo é a vida dele. Meu pai lê o dia todo”. É comovente e alentador. Na juventude, não conseguira ir além da alfabetização, mas permaneceu sempre à espreita de um ensejo para conhecer o universo do conhecimento e adentrar o paraíso das letras; e quando a oportunidade surgiu, Madureira a abraçou com a paixão dos predestinados. Certamente — e ele deve ter consciência disso — se tornou um homem ainda melhor, mais feliz, mais familiarizado com o mundo que o cerca; e aprendeu a expressar idéias com clareza e correção.

Lula da Silva também não passou da alfabetização; teve, porém, todas as oportunidades para aprender muito mais. Apesar disso, tem se mostrado um apedeuta convicto e resignado; acomodou-se à vida mansa sob a tutela do PT. Atividade intelectual é um empecilho na vida do nosso presidente; livros são “chatos”, o diploma não tem apelo, e falar inglês “é coisa de gente metida a besta”. Não estudou, não aprendeu, porque não quis; é ignorante por opção, por vocação. Suas falas são um insulto ao idioma de Machado de Assis. Não conhece plural, atropela a concordância, e a regência verbal é de uma criatividade assustadora. Quando decide falar de improviso, para desespero dos aspones, desanda a expelir asneiras na forma e no conteúdo.

É claro, pior que os solecismos presidenciais é sua incoerência. Por exemplo, enquanto o governo licitava trechos das lastimáveis rodovias federais com o propósito de privatizá-las, Lula da Silva vociferava contra as privatizações; ele é um prisioneiro da própria cretinice.