terça-feira, outubro 09, 2007

CLÓVIS ROSSI

Clóvis Rossi - De Rolex e alegria


Folha de S. Paulo
9/10/2007

Os jornais suíços não deram uma linha sobre a polêmica em torno do Rolex de Luciano Huck. Talvez porque roubo de um relógio nacional (nacional para eles, claro) não seja grande coisa, talvez porque esse tipo de crime seja tido como comum em países de "là-bas".
Mas, em compensação, estão escandalizados com o quebra-quebra de sábado entre militantes do SVP (Partido do Povo Suíço), de extrema direita, e um pequeno grupo anarquista em pleno centro velho de Berna, patrimônio cultural da humanidade. Tudo porque o SVP não esconde seu rechaço aos imigrantes, a ponto de ter usado como cartaz de campanha três ovelhas brancas sobre a bandeira suíça e uma ovelha negra sendo chutada para fora dela.
A eleição para a qual se preparou o cartaz será dentro de duas semanas. "Jamais uma campanha eleitoral foi tão agressiva", dizia ontem o jornal "Le Temps". Agressividade não parece combinar com Suíça: até a presidente do Conselho Federal, Micheline Calmy-Rey, lamenta: "O ambiente muito duro contradiz a tradição de paz difundida há séculos pela neutralidade".
Os imigrantes, potenciais vítimas da xenofobia, não parecem muito preocupados com os seus, digamos, Rolex. "Há muito racismo mesmo por aqui, mas não vai acontecer nada, porque eles precisam de nós", filosofa José Dias, garçom português com 20 anos de Suíça.
A causa eventual para voltar para Portugal nem é o SVP, apesar de o partido já fazer parte da coligação que governa a Suíça, desde o pleito anterior. "Aqui, é do trabalho para casa, da casa do trabalho. Não há alegria", reclama Fernanda Leite, três anos na Suíça. Profissão, claro, garçonete.
Entre perder um Rolex em São Paulo (ou mesmo um relógio merreca) com um revólver apontado para a cabeça ou perder a gandaia, você viveria na Suíça?