terça-feira, outubro 30, 2007

Clóvis Rossi - Sem Lula, 50 anos depois




Folha de S. Paulo
30/10/2007

O governador Aécio Neves (PSDB-MG) força um pouco a barra na contagem do tempo para sublinhar a excepcionalidade da disputa presidencial de 2010. Diz que faz praticamente 50 anos que não há eleição presidencial sem que o nome de Luiz Inácio Lula da Silva esteja na lista de candidatos.
Para chegar a esse número, há que incluir os 28 anos em que o regime militar bloqueou eleições (a última antes do golpe de 1964 fora em 1961; depois dele, só em 1989).
Mas, de fato, em todas as eleições seguintes (1989, 1994, 1998, 2002 e 2006), Lula foi candidato.
Significa o seguinte: o eleitor de menos de 60 anos (a imensa maioria) jamais votou para presidente sem que o nome do atual governante estivesse à sua disposição.
E daí? Aécio não chega a especular muito sobre as conseqüências da novidade. Afasta, como "sonho de verão", não de Lula, mas de alguns fiéis, a tentativa de impor um terceiro mandato consecutivo.
Afasta também a hipótese de que Lula seja um grande cabo eleitoral.
"No Brasil, não há tradição de transferência de votos", afirma.
O governador mineiro, óbvio candidato a candidato, por mais que diga que é cedo para falar em candidaturas, parece acreditar que, em parte pela ausência de Lula, o pleito de 2010 se dará em torno de idéias, muito mais do que pessoas.
É hora, acha ele, de um "projeto para o país", até porque "as pessoas estão cansadas dessa disputa pessoal pelo poder sem que se diga o que se vai fazer com o poder".
O governador José Serra (PSDB-SP), potencial adversário de Aécio na disputa interna pela candidatura, vai no mesmo caminho. Horas depois das declarações do governador mineiro, Serra disse concordar com citação feita domingo neste espaço (do espanhol Vicente Verdú), segundo quem o nível dos debates se ajustou "ao tamanho exato do discurso de taxista".