O Estado de S. Paulo |
2/10/2007 |
Até agora não se pode dizer que as exportações estejam sofrendo perdas pesadas com a derrubada do dólar no câmbio interno. Alguns analistas argumentam que as importações estão subindo demais e que o volume (quantum) exportado está caindo perigosamente. Acrescentam que as exportações só mantêm sua força porque os preços internacionais das commodities estão subindo em dólares. Os dados de setembro ficaram conhecidos ontem. Pelo critério da média por dia útil, as exportações deste ano crescem 16,2%, ritmo ainda exuberante. Pelo mesmo critério, as importações avançam 28,3%. Mas o saldo continua muito favorável para as contas externas. Ontem, o ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, rebaixou suas projeções do superávit comercial (exportações menos importações) de US$ 45 bilhões para US$ 40 bilhões, mas o mercado (aferido pela Pesquisa Focus, do Banco Central) projeta US$ 42 bilhões. Quem prevê o desastre próximo talvez não tenha prestado atenção à tendência. Mesmo com o dólar atuando contra a evolução do saldo comercial; levando em conta o resultado da balança de mercadorias em 12 meses; e aplicando a ele os índices anuais de crescimento, temos que a curva das importações só encontrará a das exportações (produzindo déficit zero) no segundo semestre de 2011. Há quem diga que os números surpreenderam positivamente apenas porque ocorreram exportações inesperadas, que não se repetirão tão cedo. Mas em quase todos os meses acontecem fatos insólitos dessa ordem. Quando não é a exportação extra de petróleo, como no início de setembro, é a de uma plataforma continental, como ocorreu na última semana. As exportações de manufaturados, que pesam 52,7% na pauta, são o segmento mais vulnerável ao câmbio desvantajoso. Mas estão crescendo 12,3%, o que não é pouco. E quem mais se queixa do efeito câmbio não pode negar que os resultados das exportações do setor, se não são tão bons, ao menos não são tão ruins. A exportação de calçados, por exemplo, vai evoluindo 3,6% no ano. O crescimento das importações parece mais um sinal de saúde da economia do que um problema. O Brasil ainda é um dos países mais fechados do mundo. Se tem importado mais é porque está se abrindo, o que é bom. Como observa o ex-ministro Delfim Netto, presidente do Conselho de Economia da Fiesp, a alta das importações reflete incorporação de tecnologia e aumento de competitividade da indústria, porque favorece o uso de bens intermediários mais baratos. As compras de bens de consumo no exterior ainda pesam relativamente pouco: 13,1% no total, no acumulado de nove meses. Dado relevante é o das importações de bens de capital (máquinas e equipamentos). Equivalem a 20,9% no total e estão avançando quase 30%. Isso mostra que o empresário está aproveitando o dólar barato para reequipar e aumentar a capacidade de sua fábrica. E isso pode ser sinal de mais produção e de mais exportações amanhã - apesar desse dólar. |