A semana trouxe várias boas notícias econômicas: a Bovespa bateu seguidos recordes e foi além do que estava antes do início da crise. Por meio do relatório de inflação, o Banco Central mostrou que acredita em bons cenários para a inflação deste ano e do próximo e na manutenção de crescimento. Bancos voltaram a apostar em um ou dois cortes de juros este ano no Brasil.
A Bolsa superou os 60 mil pontos na semana, revertendo mais que integralmente a queda que houve entre 23 de julho e 16 de agosto, os piores momentos da turbulência externa, período no qual caiu 17%. A cotação é um termômetro, mas há fatos mais sólidos que ocorrem na bolsa: nos primeiros sete meses deste ano, as empresas captaram no mercado de ações R$ 71 bilhões, mais que o dobro dos R$ 31 bilhões emprestados pelo BNDES. O banco, que sempre foi o único a financiar a economia brasileira, agora tem concorrente: o capital privado de pessoas, empresas e fundos do Brasil e do exterior.
A capitalização das empresas brasileiras, o valor que todas juntas têm, pela cotação de mercado, superou US$ 1 trilhão. A bolsa brasileira foi a que mais rapidamente se recuperou da turbulência global, e o poupador pessoa física continua representando mais de 20% de todos os negócios.
Durante toda a crise, o volume de negócios continuou alto. Em 2002, a bolsa brasileira negociava R$ 500 milhões por dia, agora negocia R$ 4,5 bilhões por dia. Virou uma bolsa grande, fortalecendo o capitalismo brasileiro.
Outra novidade positiva da semana foi a negociação na BM&F da operação de créditos de carbono do lixão paulista. O Brasil tem um mercado de créditos de carbono ainda tímido, mas que já conseguiu um certo volume. No mercado do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo — o MDL é o sistema do Protocolo de Kioto — o Brasil é o 3omaior emissor de cer tificates of emission reductions (CERs), com quase dez milhões, perto de 40% do total.
O primeiro é a Índia, o segundo, a Coréia do Sul, e o quarto, a China. Além disso, o Brasil tem conseguido aprovar projetos para o mercado europeu, formado para atender às cotas estabelecidas pela União Européia (UE). Há outros projetos que geram créditos comercializados no mercado voluntário da Bolsa do Clima de Chicago, do qual o Brasil também participa. O interessante do leilão desta semana na BM&F é que foi o primeiro no mundo feito numa bolsa de commodities e teve um resultado muito bom. O banco Fortis, vencedor, pagou C 16,20 a tonelada. O preço na Europa, hoje, estava em C 21,2, mas o europeu é o mercado onde a valorização é mais alta. O prefeito de São Paulo disse que o dinheiro arrecadado será usado para beneficiar a comunidade que por anos a fio teve de conviver com o lixão, que agora virou um projeto de produção de energia.
O Banco Central divulgou o relatório de inflação e, por meio dele, deu o sinal do que anda pensando sobre a evolução provável da conjuntura. As simulações do BC nos diversos cenários de inflação para este ano e o próximo são boas, de inflação dentro da meta, e um pouco melhores do que muita gente no mercado esperava. Isso significa que talvez os juros caiam de novo este ano. Os riscos de inflação a curto prazo aumentaram, mas as projeções ainda indicam taxas abaixo das metas.
O BC também avalia que o crescimento continuará forte, puxado pela demanda interna, ou seja, sendo menos afetado pela queda do nível de atividade que pode acontecer nos Estados Unidos. O BC continua apostando num crescimento de 4,7% este ano, mas aumentou a previsão de investimento.
Nenhuma boa notícia é inteiramente boa quando se olha para o lado fiscal. O BC alerta que as receitas e despesas públicas continuam crescendo acima do PIB, “o que pode gerar efeitos negativos sobre a competitividade e a capacidade de financiamento e investimento do setor privado”.
Numa entrevista que fiz esta semana com o ministro Paulo Bernardo, ele defende que o governo aumente a eficiência da gestão e faça reformas para “atender ao anseio da população por redução da carga tributária”.
Seria bom se houvesse mais ministros com essa mesma preocupação.
Como o Brasil passou bem pela crise emergencial dos mercados — que não foi trivial, porque incluiu o risco de uma crise bancária —, resta agora esperar a evolução da economia internacional.
A crise de crédito no mundo vai ser o disparo de uma recessão americana? Primeiro, é bom lembrar que esta boa semana se deve, em parte, à queda dos juros americanos, que foi maior do que o mercado internacional esperava e deu um alívio aos temores de continuação da crise financeira.
Segundo, o efeito mais temido da turbulência é na economia real, e os sinais emitidos pelo mercado imobiliário americano continuam sendo preocupantes: os Estados Unidos estão colhendo estatísticas que mostram que estão vivendo o pior momento do mercado em 12 anos; os despejos dobraram em um ano. A crise mostrou que há muitos desequilíbrios no mercado bancário mundial, provocados pela excessiva criatividade das securitizações, e isso provocou problemas em diversas instituições que ainda não foram resolvidos. A crise ainda não foi embora, apenas a crise de pânico foi vencida, e a boa notícia é que a economia brasileira passou muito bem pelo teste.
Um quadro político mais favorável a reformas que precisam ser feitas para continuar fortalecendo a economia brasileira seria bem-vindo. Mas é melhor não pedir o ideal à política neste momento. A economia torce, impotente, para que a política saia da barafunda em que se encalacrou.