quinta-feira, setembro 27, 2007

Eliane Cantanhede - Peixes e abobrinhas




Folha de S. Paulo
27/9/2007

O país discute Taís, a gêmea má, e Paula, a gêmea boa. Reclama que Renan Calheiros não vai cair coisa nenhuma. Quer saber para o que serve a Anac, hoje entregue nas mãos de Milton Zuanazzi, o único diretor que restou. E, enfim, o país torce para a CPMF, já que não vai acabar, pelo menos melhorar.
Pois é justamente no meio de tudo isso que o cidadão Altemir Gregolin convoca rede nacional de televisão para conclamar a população a comer mais pescado. Ninguém ouviu falar antes de Gregolin, que vem a ser o ministro da Pesca e conquistou seus três minutos de glória a partir de uma lei.
Essa lei franqueia a TV aos governantes para questões de interesse relevante -interesse público, diga-se. Mas eles vão à TV, usando seu melhor penteado e seu sorriso mais sedutor, com o devido cálculo político-eleitoral. O telespectador que interessa não é o público em geral, é o eleitor das bases de cada um.
Já foram onze no segundo mandato, inclusive Guido Mantega (Fazenda) para defender o indefensável: a política tributária, que o ex-ministro Delfim Neto, bom aliado de Lula, acusou em artigo na Folha de ontem como um dos entraves ao emprego e a melhores condições socioeconômicas. A próxima na TV será Marta Suplicy (Turismo).
Nos dois governos de FHC, os ministros já faziam fila para entrar na telinha. No de Lula, a festa continua. O que é mais um dado para mostrar que, apesar de tudo o que um fala do outro, do que um acusa o outro, um governo é apenas continuação do outro -para o bem, para o mal e para um certo cansaço de boa parte dos pobres mortais.
Só falta irem juntos à TV, lado a lado, o ministro de Lula Walfrido dos Mares Guia e o senador e ex-governador tucano Eduardo Azeredo, ambos enrolados com o valerioduto e com boas explicações a dar. Mas que não venham atrapalhar a trama Taís-Paula para falar de peixes, muito menos de abobrinhas.

elianec@uol.com.br