MUNIQUE - Quero ser setorista da "Champions League", a copa européia de clubes que se tornou o mais importante torneio de futebol do planeta. Explico: pagaria para ver as partidas da copa. Em sendo setorista, me pagariam para fazer o que eu pagaria para ver. Nunca houve melhor emprego nesta Terra, diria um velho conhecido. Mas a reportagem de ontem de Rodrigo Bueno mostra que não se trata de mero capricho. A "Champions League" é hoje um torneio majoritariamente brasileiro: 102 dos jogadores nasceram no Brasil. Dá, portanto, algo mais que 9 times dos 32 que chegaram à fase de grupos, que se iniciou ontem. E não são 102 "joões". São os Ronaldinho Gaúcho, os Kaká, os Ronaldo, os Robinho, enfim o melhor que o melhor futebol do mundo pode pôr em campo. O inacreditável é que há mais brasileiros do que nacionais de qualquer país europeu, embora o torneio seja entre clubes europeus. Como, desde o primeiro dia da faculdade de jornalismo, os professores me ensinavam que "é mais importante um cachorro que morra na esquina de casa do que 100 indianos que morram na Índia", o jornalismo brasileiro deveria marcar em cima o torneio -e não apenas pela televisão. Se é assim, aviso aos editores: sou um bom marcador. Em quase todos os países a que aporto a trabalho, me interesso pela crescente diáspora brasileira. Creio que não haja diáspora mais significativa do que a dos futebolistas. Há nela uma importância econômica óbvia, pelas portentosas cifras que o futebol movimenta hoje em dia. Mas há, acima de tudo, material para um estudo de caso antroposociológico. Como é possível que se torne obrigatório emigrar justamente na única atividade em que temos uma "expertise" fora do comum, universalmente reconhecida? |