segunda-feira, agosto 27, 2007

FHC diz que PT, não povo, vai pedir reeleição de Lula em 2010


Alckmin também reage a entrevista do presidente ao ?Estado? e destaca compromisso com alternância de poder

Fausto Macedo e Mônica Ciarelli


O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) declarou ontem que o ponto mais significativo da entrevista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Estado, publicada na edição de ontem, foi a declaração relativa a 2010, quando encerrará o segundo mandato. "A sucessão é o tópico mais importante. O mais importante, do ponto de vista político, é ele afiançar que não entrará no canto da sereia. É a afirmação que não terá terceiro mandato", comentou. Lula garantiu que "nem se o povo pedir" sairá candidato.


link Leia a íntegra da entrevista do presidente Lula ao Estado

"Não é o povo que vai pedir, é o PT", rebateu Fernando Henrique. "A palavra dele foi peremptória, deve afastar a hipótese malsã de um terceiro mandato." O tucano atribuiu presunção às palavras do sucessor. "O tom arrogante não é apropriado para um presidente", disse. "Quanto ao resto (da entrevista), é aquele tom habitual, tudo que foi ruim, que aconteceu no governo, não sabia de nada, e tudo que é bom foi ele quem começou, mesmo que de outros", criticou. "É bazófia do presidente. Auto-elogios, ele começou tudo, isso ele repete muito."

O ex-presidente destacou a política econômica. "(Lula) nega a evidência de que foi continuação do que fizemos", disse. As declarações sobre o Bolsa-Família também mereceram reprovação. "Começamos essas bolsas. O ritmo aumentou, acho bom isso para o País, mas não precisa tanto auto-elogio, numa tentativa de desacreditar os fundamentos que foram feitos."

FHC acusou Lula de se esquivar sobre o mensalão - que envolve 40 suspeitos, incluindo antigos aliados do presidente, e está sob julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF). Ao Estado, Lula declarou: "Quem erra, paga. Eu não sei quem errou, o PT não errou, acho que pessoas do PT podem ter errado." Fernando Henrique rebateu: "Ele não sabe de nada. Acho estranho que o presidente da República, depois de tudo, continua esperando o julgamento, nenhuma palavra de reprovação. Mesmo que não julgue as pessoas, enfim, foi um dos maiores escândalos da história."

O ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), via sua assessoria, destacou: "O aspecto mais relevante da entrevista é o compromisso do presidente com o princípio democrático da alternância de poder." Também para o cientista político Luiz Jorge Werneck Vianna, do Instituto Universitário de Pesquisas do Estado do Rio de Janeiro (Iuperj), a afirmação de que não será candidato em 2010 é muito importante. "A política é um jogo de alternâncias. É saudável o presidente perceber isso."

Já a ex-senadora Heloísa Helena (PSOL) não acredita na promessa do presidente de não sair candidato em 2010: "É conversa fiada, é jogo de cena."

O deputado Rodrigo Maia (RJ), presidente do DEM, criticou: "Quando fala dos escândalos, mais uma vez as respostas são de um presidente sem autoridade, até com um pouco de cinismo, ?não sei quem errou, não vou dizer quem me traiu?. Quem errou foi ele. O esquema atingiu a cozinha do presidente."

O prefeito do Rio, César Maia (DEM), analisou com ironia o fato de Lula negar ter dado apoio ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). "Ou ele mentiu para o Renan ou o Renan está mentindo."

O líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), comentou frase de Lula de que, quando alguém "começa a pensar que é insubstituível, começa a nascer um ditadorzinho". Para ele, foi uma crítica ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez. "O subconsciente o traiu. Foi um ato falho, um lapso. Mas Lula vai ter que se explicar ao presidente Hugo Chávez. A ilação, feita por Lula, dirige-se à Venezuela."

COLABORARAM EXPEDITO FILHO e CIDA FONTES




FRASES

Rodrigo Maia

Presidente do DEM

"Respostas são de um presidente sem autoridade, até com um pouco de cinismo"


Luiz J. Werneck Vianna
Cientista político

"A política é um jogo de alternâncias. É saudável o presidente perceber isso"

Heloísa Helena
Ex-senadora (PSOL)

"É conversa fiada, é jogo de cena"


O QUE LULA DISSE

Mensalão - "Quem erra paga. Houve uma denúncia, que foi apurada. Saiu do Congresso e foi para o Ministério Público. Foi para o Supremo, que decide ou não se acata o indiciamento. Eu acho que quem errou pagará pelo erro que cometeu. Agora, o que eu quero para mim, para os meus amigos e para os meus adversários é que todos tenham direito à defesa"

Dirceu - "(Se for aberto processo) causa impacto para ele. No governo, nenhum"

Renan - "O caso Renan é típico do Congresso. O que eu posso fazer como presidente da República? Nada. O governo não ajuda, até porque não tem como ajudar, mesmo que quisesse. Eu acho que não houve julgamento ainda. Enquanto não decidir, eu não posso condenar ninguém"

Economia - "Nosso grande acerto é a economia. Se eu continuasse com a política (econômica de FHC), o País tinha quebrado. Mudou tudo. Mudou a nossa relação internacional. O ajuste fiscal que nós fizemos em 2003. Não mudou nada neste país? Os fatos comprovam as mudanças. O Brasil está sólido economicamente"

Bolsa-família - "É lógico que é uma coisa temporária. É temporária enquanto tiver pobre abaixo da linha da pobreza. A tendência do Bolsa-Família é chegar ao final do governo com menos gente, na medida em que vai diminuindo a pobreza"

Sucessão - "Se a gente tiver juízo, a gente constrói essa candidatura única (em 2010). Ser do PT ou não ser do PT é um problema que o partido vai ter de decidir. Não ficarei neutro. Tenho posição política, tenho partido. E quero subir em palanque."

Mandato - "Eu acho que oito anos é o suficiente para que eu faça aquilo que acredito que é possível fazer. Outro virá e fará mais. Não tem essa de o povo pedir. Meu mandato termina no dia 31 de dezembro de 2010"

Democracia - "Não acredito na palavra insubstituível. Não existe ninguém que não seja substituível, ou que seja imprescindível. Quando um dirigente político começa a pensar que é imprescindível, que ele é insubstituível, começa a nascer um ditadorzinho"