RIO DE JANEIRO - Vaiar virou um dos esportes prediletos da torcida brasileira no Pan. Se na abertura o alvo foi o presidente Lula, americanos, cubanos, venezuelanos e argentinos enfrentaram apupos altos e constantes, como se, na disputa por medalhas, estivessem Bush, Fidel, Chávez e Kirchner.
Brasileiros da ginasta e do atletismo se queixaram da falta de educação da torcida ao vaiar competidores estrangeiros em momentos que exigem concentração. Vaias repreensíveis como essas são estimuladas por gente como o ex-jogador de basquete Oscar Schmidt, que, portando crachá da TV Globo, esgoelou-se a gritar "vai cair, vai cair" para uma atleta canadense -possível futuro destaque da equipe olímpica, com 14 anos recém-completados- enquanto ela tentava difíceis acrobacias na trave da ginástica artística. Uma covardia. Peng-Peng Lee, a canadense revelação, caiu; mas saiu altiva como os grandes sabem ser ao tropeçar.
O Pan tem sido uma diversão para o Rio, a despeito dos índices técnicos, incomparavelmente ruins, na maior parte dos casos, quando contrapostos aos da elite esportiva mundial. Trânsito lento por deficiência de transporte público adequado e a usual incompetência na venda e na entrega de ingressos não macularam os jogos. Não seriam as vaias que o fariam.
A vaia é legítima em qualquer campo (alguém precisa lembrar isso a Lula e seus asseclas). É uma manifestação contestatória política e apaixonada -a paixão é cega, e a política, injusta, sabe-se-, mas é melhor do que se prostrar, permanecer rendido à pasmaceira. "Venha vaiar você também" é uma provocação. Um convite para ser vaiador ou ser vaiado. Ser agente da história é melhor do que receber prêmio por bom comportamento, quase sempre aceitação passiva do que está por aí e que deveria revoltar.