Panorama Econômico |
O Globo |
26/7/2007 |
O novo ministro da Defesa, Nelson Jobim, chegou com o dever de casa feito. Tinha lido estudos sobre o setor aéreo, apresentou já suas primeiras idéias e quis ter certeza de que teria autonomia e de que todos os assuntos de orçamento seriam discutidos com ele. Foi assim na conversa com o presidente Lula e, depois, na reunião que se seguiu com os ministros Dilma Rousseff e Paulo Bernardo. - Presidente, eu realmente relutei diante do convite, por razões profissionais e familiares, mas vim aqui para dizer que estou à disposição - afirmou Nelson Jobim a Lula ontem de manhã. Os dois já haviam conversado anteriormente. Depois do meio-de-campo feito pelo amigo Sigmaringa Seixas, Jobim aceitou o convite. Das 9h30m até as 11h, Jobim fez uma reunião detalhada com os ministros Dilma Rousseff e Paulo Bernardo. O que ele deixou claro nestes primeiros contatos é que quer realmente autoridade de ministro e espaço no orçamento para medidas que precisam ser tomadas. Ser ministro da Defesa é mais que pilotar a crise aérea, mas o ex-presidente do Supremo assume no meio da turbulência, portanto, sua primeira tarefa será dar alguma resposta ao problema. A mudança de ministros não significa apenas troca de nomes e de estilos. Sai Waldir Pires, que se encolheu na crise e demonstrou não ter apetite para comandar o setor, e entra Nelson Jobim, que, por temperamento e estilo, é do tipo que ocupa todo o espaço possível. Mas há mais mudanças nesta troca. Jobim vai para o Ministério da Defesa com o mandato de fortalecer o recém-ativado Conselho Nacional de Aviação Civil, o Conac, que passará a definir políticas na área de aviação civil. Para isso, o órgão terá assessores que ajudarão tecnicamente os ministros nas decisões. Outro que passará a ter uma posição mais forte será o Centro de Gerenciamento da Navegação Aérea, criado há alguns anos pela Aeronáutica. À Anac caberá executar a política determinada pelo governo e, por enquanto, a decisão é a de manter a diretoria e investir nos técnicos da agência. Mas, se a direção da agência continuar tendo problemas de desempenho, ela pode, sim, ser trocada, segundo fontes do governo. Os presidentes da TAM e da Gol foram chamados ao governo para uma reunião. Estavam cooperativos. Até porque as medidas tomadas tiraram as empresas da situação de córner em que estavam: ao mandar parar a venda de bilhetes, elas tiveram a chance de não serem soterradas pela bola de neve que estava se formando com o número de passageiros não atendidos. A cada dia, os vários cancelamentos deixavam mais pessoas à espera. A cada dia, o déficit aumentava. Neste fim de férias, certamente seria uma catástrofe. A desculpa que as empresas têm agora, diante de qualquer queixa, é a de que a Anac mandou parar tudo. A situação só chegou no ponto em que chegou por culpa da agência, que foi sendo leniente com os erros cometidos pelas empresas e cedeu ao interesse delas de concentrar mais do que era tolerável no aeroporto de Congonhas. Os números sobre os quais só agora o governo se debruçou mostram que a ponte aérea é apenas 24% dos pousos e decolagens de Congonhas. Outros 24% são vôos para Brasília, Confins e Curitiba. Os vôos Congonhas-Porto Alegre são 6% e 8% são os para o interior de São Paulo. Os demais são vôos que saem ou passam por Congonhas em direção a outros destinos. A decisão do governo é de manter um raio de, no máximo, 1.000 milhas atendido por Congonhas, mas os vôos mais longos e todos os vôos charter serão transferidos para Guarulhos e Viracopos. Isso vai reduzir em 30% o fluxo de passageiros por Congonhas, cerca de 6 milhões de pessoas por ano. Poderão ser atendidas por Guarulhos 2,5 milhões e outras 1,5 milhão por Viracopos, segundo os cálculos do governo. E desde que haja reformas emergenciais e aumento dos investimentos nos dois aeroportos. Mesmo assim, não é o suficiente. Os aviões executivos podem ir, em parte, para o Campo de Marte; mas os jatos não pousam lá e, por isso, serão transferidos para Jundiaí, a 60km de São Paulo, que também terá investimentos para melhoria das instalações. Este é o plano para desafogar Congonhas e racionalizar o transporte aéreo. As empresas vão estudar com o governo a redefinição da malha aérea nos próximos dias. O governo começou a respirar aliviado ontem, achando que foi o início do encaminhamento de uma solução. Pode ser. Mas é bom lembrar que, antes de melhorar, vai piorar um pouco mais porque este fim de semana, fim de férias, terá uma pressão enorme de demanda sobre os aeroportos. No governo, há quem acredite que, passando o gargalo do fim das férias, a situação vai começar a se normalizar. A tarefa é mais complexa e mais árdua. Os erros se acumularam e há muito o que fazer. Pelo menos a atitude do novo ministro, pedindo poderes, querendo ter voz ativa na definição dos investimentos, e já debruçado sobre estudos de especialistas, dá algum ânimo, depois de dez meses de erros, caos e subestimação da crise. Ser ministro da Defesa é mais que pilotar uma crise aérea; há inúmeros outros desafios quanto às Forças Armadas brasileiras e à própria defesa nacional, mas, neste momento, há uma emergência e, se o ministro Nelson Jobim tiver algum plano de vôo, será um enorme . |