sexta-feira, julho 27, 2007

Luiz Garcia - Ministério do Ataque




O Globo
27/7/2007

A folha corrida de Waldir Pires na política brasileira é respeitável. Mas nenhum de seus capítulos sequer sugeria que, aos 80 anos, ele tivesse condições de administrar o Ministério da Defesa com energia e eficiência. Foi-se ver, não tinha.

Na verdade, nem ele nem quaisquer de seus antecessores. Desde o governo Fernando Henrique, nenhum ministro da Defesa conseguiu mostrar virtudes concretas e consideráveis. Mas o Ministério da Defesa aí está para valer e para ficar. E, agora, vamos ver se Nelson Jobim - político/jurista/peemedebista e sessentão na flor da idade - consegue, além de superar a crise nos céus, mostrar que a pasta civil é melhor solução para o setor em quaisquer circunstâncias.

São dois os alvos imediatos. Primeiro, acabar com os problemas no controle de vôos. Os controladores nada têm a ver com o acidente em Congonhas, mas seria ingenuidade imaginar que o problema deles esteja resolvido. Crise sem fatos novos não é crise resolvida. Pior ainda, a impressão de normalidade costuma conduzir ao esquecimento de falhas e problemas. Até o próximo desastre, naturalmente.

A segunda área de preocupação está no controle dos vôos e das empresas aéreas. Já está tragicamente comprovado o erro de entregar esse setor, de olhos fechados, a amigos e simpatizantes da turma que deve ser controlada.

Devolver a fiscalização das empresas à Aeronáutica, acabando com a farra da Anac, é missão óbvia do ministro da Defesa. Se Jobim precisasse de alguma ajuda para entender o comportamento do pessoal dessa área poderia pedir em casa: sua mulher foi membro atuante do Coaf, órgão do Ministério da Fazenda que fiscaliza operações financeiras em busca de malandragens. Mas ele deve dispensar qualquer ajuda nesse terreno: faz política no Brasil há muito tempo.

Essas duas áreas de ação podem ser definidas como moleza pura, perto de uma terceira, que não se limita ao campo de atuação do Ministério da Defesa. Duro mesmo será convencer o governo Lula de que, ante uma situação recheada de aspectos tão trágicos quanto urgentes, é preciso agir com rapidez e sem medo, substituindo esperteza por inteligência.

No primeiro momento, o do discurso antes da ação, o ministro da Defesa mostrou que tem boa mira na identificação dos problemas - além da indispensável bala na agulha.

Apesar do nome da pasta, Jobim parece decidido a entrar na briga como deve ser: fazendo o poder público mudar de postura e sair da defesa covarde para o ataque inteligente.