RIO DE JANEIRO - Voltando de São Paulo nesta quinta-feira, tentei aplicar o conselho da ministra Marta Suplicy, do Turismo, de "relaxar e gozar" para bem usufruir o tempo perdido nos aeroportos. Mas, depois de horas retido por um vôo da ponte aérea, descobri que, em Congonhas, é impossível relaxar.
A distância é muito grande entre o raio-X da polícia e o portão de embarque, seja este qual for. Caminham-se léguas. Em lá chegando, você é informado de que, "devido a um reposicionamento de aeronaves", seu embarque no portão 2 passou para o portão 19. E toca de novo a arrastar a mala, por sorte com alça. Tal esforço não induz ao relaxamento, mas à fadiga, à tensão e à ira. Já no portão certo, mas ao saber que seu vôo está atrasado e sem previsão, você se instala e, aí, sim, tenta relaxar lendo seu livro ou revendo o trabalho que o levou a São Paulo. E, de repente, ouve a voz de Iris Lettieri.
Iris Lettieri é, há muito, a voz feminina dos aeroportos e uma das mais excitantes na história do microfone. Deveria ser enlatada e despachada para o ano 3000 numa arca do tempo, para que os pósteros, ao ouvi-la, façam bom juízo de nós. Enfim, que voz. Mas também não leva ao relaxamento. Ao contrário.
Pena que nem todas as vozes em Congonhas sejam de Iris Lettieri. De repente, começa uma saraivada de vozes finas, pelo nariz e com RRs flácidos, dando copiosas informações bilíngües sobre cada vôo de cada companhia e registrando cada atraso, troca de portão e dança das aeronaves. É azucrinante: uma mensagem atrás da outra, sem piedade para com nossos ouvidos. Impossível ler, relaxar, dormir, sonhar, o que for.
Muitas horas depois, enfim, o embarque. E apenas por isso -pelo fim do martírio-, com todo respeito, gozamos! Era isso que a ministra queria dizer!