domingo, junho 17, 2007

Dora Kramer Dos braços de Morfeu


O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ainda hesita, mas já dá sinais de que pode aceitar presidir o PSDB a partir de novembro próximo, em substituição ao senador Tasso Jereissati. “Será que tenho paciência?”, pergunta-se, em dúvida sobre sua disposição de administrar contraditórios internos - a maior parte paroquiais - e assumir o manejo da máquina partidária.

Haveria aí um impedimento intransponível, se Fernando Henrique já não tivesse ele mesmo proposto a solução. Fica como presidente do conselho de cardeais, deixa a burocracia aos cuidados de um executivo qualificado e vai cuidar do principal: tentar tirar o partido do sono profundo em que mergulhou desde a atabalhoada escolha de Geraldo Alckmin como candidato à Presidência da República.

A missão é árdua e, para isso, os tucanos já chegaram à conclusão, é preciso mais que paliativos. É necessário pôr no comando formal alguém com densidade política de alcance nacional e nitidez de atitude oposicionista já consolidada na percepção do eleitorado.

Sem isso, o PSDB está convencido, o partido não atravessa o deserto que o separa da pretensão de voltar ao poder, não chega sequer vivo à eleição municipal. Não enfrenta o ostracismo imposto pela predominância da figura do presidente Luiz Inácio da Silva em cena, muito menos recupera o prejuízo da má fama adquirida mediante tibiezas e decisões equivocadas.

A troca de comando no partido deveria ter sido feita agora, no primeiro semestre, mas esbarrou na resistência de Tasso Jereissati em deixar o cargo antes do tempo. Para não criar mais confusão onde ela já está instalada em proporções amazônicas, os tucanos decidiram esperar até a data regulamentar.

Nesse meio tempo, Fernando Henrique esquenta os tamborins. Não pára de falar e, sobretudo, não pára de falar mal de Lula, do governo e do PT.

Faz o combate praticamente sozinho e acha isso ruim para o partido. Até compreende as limitações dos dois mais preciosos trunfos do PSDB para a próxima eleição presidencial - os governadores José Serra e Aécio Neves - para atacar. Não só por causa das relações administrativas entre o governo federal e os Estados de São Paulo e Minas Gerais, mas, sobretudo, em função da popularidade do presidente.

Na conta de FH, se partissem para o confronto direto desde já, Serra e Aécio correriam o risco de atrair a ira dos milhões de admiradores de Lula. Mas pondera que ambos poderiam ser um pouco mais agressivos em relação ao PT e contundentes na apresentação das respectivas credenciais ao público votante, marcando mais presença no debate de questões nacionais.

Agora, quem mais necessita de veemência e nitidez no momento, na opinião de Fernando Henrique, é o seu partido como um todo. Sob essa ótica do despertar foi que na semana passada o PSDB buscou marcar posição na reforma política e no processo de investigação das denúncias que atingem o presidente do Senado, Renan Calheiros.

Em ambos os assuntos, os tucanos entraram claudicantes: na reforma, divididos quanto ao apoio ao sistema de listas fechadas para a eleição de deputados e, no caso do senador, aliando-se ao acordão geral pela absolvição liminar, sem o exame detido das acusações.

Neste último episódio, firmaram posição por uma investigação mais acurada quando perceberam que estavam na contramão da opinião pública.

No primeiro, a bancada na Câmara enquadrou-se, na quarta-feira, aos alertas do alto comando de que o PT e o PMDB seriam os maiores beneficiados com a transferência da prerrogativa de escolher os candidatos às direções partidárias, pois têm as máquinas mais poderosas e bem organizadas.

Com isso, o tucanato tentou dar um primeiro passo no sentido contrário ao caminho adotado com o apoio a Arlindo Chinaglia para a presidência da Câmara, num gesto que ajudou não apenas o PT a recuperar parte do poder perdido com os escândalos de corrupção, como jogou o PMDB - interessado no acordo para suceder o petista no posto - de uma vez por todas no colo de Lula, o alvo primordial na opinião de FH.

Não por causa de eventuais tentativas de tornar viável um terceiro mandato, mas pelo potencial de ser um eleitor decisivo em 2010 e um candidato certo à volta por cima quatro anos depois.

Principalmente se José Serra e Aécio Neves “não tiverem juízo”, não entrarem no embate no tom e hora certos e resolverem esquecer nome, endereço e CPF do adversário para brigar entre si pela candidatura à Presidência da República.

Custo do Pan

O presidente Lula não deixa de ter razão quando diz que pesam mais os ganhos que os gastos na realização de uma competição internacional como os Jogos Pan-Americanos.

O problema é a, digamos assim, evolução patrimonial do orçamento dos jogos: 793,72% em quatro anos. Previstos para pouco mais de R$ 400 milhões, os custos já estão na casa dos R$ 3,7 bilhões. Algo de estranho há.