quarta-feira, maio 30, 2007

O presidente da Vale e a questão energética


Reinaldo Azevedo
Há dias informei aqui que um importante analista de mercado, que conhece bem o Brasil, havia alertado para o risco energético. Ontem, quem tratou do assunto às claras foi ninguém menos do que o presidente da Vale do Rio Doce, Roger Agnelli. Leiam trecho de reportagem de Anne Warth e Renée Pereira no Estadão de hoje. Volto depois:

O presidente da Companhia Vale do Rio Doce, Roger Agnelli, disse ontem que as incertezas com o fornecimento de energia elétrica têm afetado os planos da empresa no Brasil. Segundo ele, embora o País tenha grandes reservas de bauxita, a empresa não pensa em novos investimentos na área de alumínio por temer falta de energia a partir de 2012 e 2013.Além dos projetos de alumínio, a questão da energia tem afetado projetos nas áreas de cobre e níquel. 'Estamos priorizando projetos maiores e com menos consumo de energia, como Salobo (extração de cobre). Por esse problema, adiamos os projetos 118 e Vermelho (de níquel)', afirmou Agnelli, após participar do 3º Fórum Globo News, em São Paulo.O executivo destacou que a empresa tem buscado no mercado internacional oportunidades para instalar esses projetos. Na avaliação dele, o País precisa debater a matriz energética considerando uma visão de médio e longo prazos. 'O fato é o seguinte: o País precisa ter mais geração de energia, seja nuclear, térmica, a gás, carvão, hídrica, o que for. Mas precisa ter mais energia.'A preocupação de Agnelli é geral entre as empresas eletrointensivas, cuja energia representa boa parte dos custos dos produtos, como a indústria de alumínio e ferro-gusa. 'Hoje há muito pouco projeto entrando em operação no País e a questão do fornecimento de gás não está sendo solucionada na velocidade necessária', diz o diretor da Alcoa, Ricardo Sayão.

Voltei
O ministro Paulo Bernardo (Planejamento) estava presente ao mesmo evento e reagiu: "É uma voz de alerta que deve ser ouvida, mas é um exagero achar que a Vale está parando os investimentos." Como se vê, parece que o homem quer saber mais sobre a realidade interna da empresa do que seu próprio presidente. Ademais, ele não disse que havia parado de investir. Disse que estava mudando as suas escolhas.

A verdade é uma só e já é de conhecimento de todo o mercado: embora a geração de energia seja considerada um dos itens principais do PAC, os projetos estão parados. Faltam investimentos. Existem, sim, as dificuldades ambientais, mas também as relacionadas aos marcos regulatórios. Os projetos na área são de longa maturação. A estabilidade econômica traz justamente isto: a chance de planejar o futuro. O país pára de raciocinar apenas da mão para a boca. Observem: estamos em 2007, e Agnelli está se referindo a 2012 e 2013. Esse é o problema do lulismo: com o Apedeuta, só temos presente. E pouco futuro.

Vai faltar energia? Bem, à medida que as próprias empresas deixam de investir porque temem a crise, talvez nem venha a faltar. Logo, a questão é irrelevante? É claro que não. A fatura é cobrada do crescimento econômico.

E observem: o tal nó ambiental já dura quanto tempo? É de hoje que ouvimos falar sobre as disputas internas das ministras Marina Silva (Meio Ambiente) e Dilma Rousseff (Casa Civil), a coordenadora do PAC? Não. E o que fez Lula? Decretou uma espécie de empate, como se estivesse administrando as várias correntes do PT.