terça-feira, maio 01, 2007

: "Homenagens, só póstumas", Carlos Brickmann

Diário do Grande ABC - 2 de maio


Veja o noticiário de hoje: Octavio Frias de Oliveira foi um grande
homem, um grande empresário, um jornalista de primeira – o que é
absoluta verdade. Mas levou muito tempo para ser reconhecido por seus
concorrentes e inimigos.

Veja o noticiário antigo: Frias era apontado como aventureiro, acusado
de apropriar-se de uma praça pública, de não pagar ao INPS, de usar
seu jornal como escudo de outros negócios. Até a Polícia Federal foi
usada contra ele.

É muito Brasil: os aristocratas, que herdaram suas fortunas, hesitam
em aceitar um empreendedor que veio de baixo, que em criança foi
office-boy, que trabalhou duro e, com seu suor e talento, enriqueceu –
e, apesar de rico, continuou trabalhando duro, empreendendo e
desprezando os luxos da aristocracia.

Quando entrou no ramo jornalístico, em 1962, Frias já tinha um
impressionante currículo empresarial – entre outras coisas, construiu
o Edifício Copan, projeto de Oscar Niemeyer, marco da arquitetura
paulistana, e criou a construção a preço de custo. Nada disso importou
aos aristocratas: ele também mexia com ônibus (a Estação Rodoviária de
São Paulo), ramo considerado menos nobre, coisa em que gente fina não
se metia. Para atingi-lo, montou-se uma guerra contra a Rodoviária.
Nós perdemos: a Prefeitura construiu uma nova Rodoviária, com o nosso
dinheiro, só para tirar Frias do negócio (e, supunha-se, ferir de
morte seu jornal).

Não adiantou: o jornal cresceu cada vez mais. Frias virou unanimidade
. Mas pagou, por muitos anos, pela audácia de conquistar seu lugar.

Testemunho

Este colunista trabalhou com Frias por três períodos, da época em que
era apontado como aventureiro até sua aceitação como um dos principais
empresários jornalísticos do país. Uma pessoa notável. E um grande,
excepcional, jornalista