RIO DE JANEIRO - Volta e meia, nas repartições e escritórios, surge
um passaralho, palavra aceita pelo dicionário do Houaiss, designando
o furacão que demite uma porrada de empregados. Em geral, por conta
de contenção de despesas ou em nome da renovação dos quadros.
De uma forma ou outra, o mercado de trabalho logo se recompõe e a
vida continua, os sobreviventes aguardando o próximo passaralho, as
vítimas buscando emprego em outras atividades.
Um passaralho tamanho família varre a vida nacional, deslocando as
forças da nação para um tipo de atividade policial e novelesca, onde
muitos são os suspeitos e poucos os criminosos.
Varrendo os corredores, elevadores, salas e ante-salas do poder, o
terremoto inquieta culpados e inocentes. Até que ponto uma gravata ou
um passeio de lancha revela corrupção?
O que se sabe é do conhecimento geral: qualquer tipo de serviço
prestado aos governos por empresas particulares recebe um acréscimo
porcentual no preço da empreitada submetida à licitação regulamentar.
O acréscimo é para comprar gravatas e aluguel de lanchas, por conta
de despesas relativas ao marketing ou às relações públicas. Os
cínicos garantem que tudo tem seu preço, não há almoço grátis.
Numa das brigas da política do Rio Grande do Sul, algumas delas com
degolados e degoladores, foi necessária a participação do líder de
uma facção liderada por Assis Brasil. Ele sentou-se à mesa dos
negociadores, em Pedras Altas, e foi logo dizendo: "Eu tenho um preço!".
Espanto geral. Assis Brasil detalhou o seu preço: "Representação e
Justiça!". Com isso, a eternidade do poder de Borges Medeiros foi
para o brejo. Não se falou em gravatas nem em passeios de lancha.
domingo, maio 27, 2007
Carlos Heitor Cony: Passaralho - 27/05/2007
Folha de S.Paulo - Rio de Janeiro -