sábado, maio 19, 2007

AUGUSTO NUNES SETE DIAS

Criminosos sem castigo
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Se alguém for para a cadeia a bordo de denúncias de alta voltagem, algo de grave ocorrerá. Ou ao denunciado, que terá de pagar por crimes desvendados no curso de investigações policiais, ou ao denunciante, que terá de pagar pelo pecado da acusação sem fundamento. É assim nos seriados da TV e no cotidiano dos EUA. Porque assim deve ser, na realidade ou na ficção, em países que cumprem a lei.

Não é assim no Brasil. Nem poderia ser diferente neste delírio tropical razoavelmente distanciado das cavernas mas ainda tão longe dos tempos modernos, nesta geléia geral situada num ponto imaginário em que o fictício e o real se fundem e confundem. Nos últimos anos, como vive festejando o governo, a Polícia Federal mandou centenas de acusados para a cadeia. Raríssimos continuam por lá.

Como os acusadores seguem em liberdade, deve-se deduzir que não faltou consistência às denúncias. Nem faltaram culpas no cartório. O que faltou foi vontade, meios e coragem para punir exemplarmente qualquer bandido. E a impunidade prevaleceu.

É estimulante constatar, como informam as operações ultimamente promovidas em ritmo de Fórmula-1, que a polícia aprendeu a engaiolar também figurões. É penoso verificar que nenhum fica muito tempo na cela. É particularmente perturbador saber que raríssimos serão condenados.

Os juízes capturados no clímax da Operação Furacão, por exemplo, foram libertados duas vezes em menos de um mês. Primeiro, saíram da cadeia. Depois saíram das páginas policiais, invadidas por delinqüências mais frescas. Alguns voltaram voluntariamente - para acusar a imprensa.

Nesta semana, catres e espaços jornalísticos foram ocupados pelos integrantes da quadrilha desbaratada pela Operação Navalha. O olho do furacão exibiu desembargadores, advogados e contraventores bilionários. O fio da lâmina ronda gargantas que abrilhantaram muito comício.

Autonomeado diretor de elenco, o empresário paraibano Zuleido Soares Veras, dono da construtora Gautama, colocou em cena um cast de primeira. Para favorecer a empresa com licitações fraudulentas, e transformar em cenas do crime os canteiros de obras prometidos pelo PAC, foram subornados governadores de Estado, medalhões federais, prefeitos de cidades de bom tamanho, filhos e sobrinhos de mandarins regionais.

As descobertas policiais avisam que a vitória do pedetista Jackson Lago na disputa pelo comando político do Maranhão formalizou não o triunfo de uma aliança multipartidária mas o sucesso de um bando liderado pelo ex-governador José Reinaldo Tavares. O cacique foi preso. Como os parceiros, desfrutará em casa do feriadão de Corpus Christi.

A polícia prende, a Justiça solta e demora a tratar do caso. Quando julga, raramente condena. Quando condena, favorece a redução da pena. Enquanto for assim, o Brasil estará fora do primeiro mundo. Ali só entram países que decretaram o fim da impunidade. Há crimes. Mas também castigo.



Cabôco Perguntadô

O ministro Paulo Gallotti, do Superior Tribunal de Justiça, acha que devem ser transferidos para o Rio 12 líderes de quadrilhas cariocas engaiolados no presídio federal de Catanduvas. A alegação do doutor - condenados devem cumprir penas perto da família - deixou o Cabôco intrigado: se só podem ficar presos por lá bandidos com parentes no interior do Paraná, por que a Justiça não embargou a construção da cadeia de segurança máxima? Bastaria uma delegacia vigiada por guardas municipais.

A inventora de cidades

Marta Suplicy teve a grande idéia: construir no ABC paulista uma "Cidade do Automóvel". Lula gostou tanto que se apressou a sugerir a localização do parque temático para pilotos mirins: São Bernardo do Campo, onde tudo começou.

Enquanto a ministra do Turismo e o presidente da República jogam conversa fora inventando viagens de brinquedo, multidões de viajantes de verdade perdem tempo, dinheiro e a paciência em aeroportos conflagrados e estradas intransitáveis.


CPI subverte plano de vôo

Durante a passagem do deputado Carlos Wilson (PT-PE) pela presidência da empresa, a roubalheira comeu solta nos territórios administrados pela Infraero. Da transformação de saguões de aeroportos em shopping centers a reformas mambembes nas pistas, raríssimas obras escaparam do superfaturamento - promovido por empreiteiras que seguem lucrando com encomendas da Infraero.

Enquanto isso, a CPI do Apagão investiga a queda do Boeing da Gol. É o Brasil.



O torturador do português

Tudo bem que o deputado federal Marco Maia chame a CPI do Apagão, da qual é o relator, de "CPI da Crise Aérea": foi assim que o PT decidiu rebatizá-la, e o parlamentar gaúcho é bom companheiro. Tudo bem que prefira investigar o acidente com o Boeing da Gol a examinar as causas do colapso da aviação civil: ele está lá para confundir, não para explicar. Mas o partido poderia ter indicado para a tarefa alguém que dominasse o bê-á-bá. Maia comete um erro de português a cada cinco palavras.



Yolhesman Crisbelles

O troféu da semana vai para o ministro das Minas e Energia, Silas Rondeau, pela frase com a qual festejou a entrega à Bolívia, por US$ 120 milhões, das duas refinarias que custaram à Petrobras US$ 180 milhões:

Foi um excelente negócio para o Brasil.
Se ficou tão feliz com um prejuízo de U$ 60 milhões (fora o confisco de outros ativos da Petrobras pelo amigo Evo Morales), Rondeau promoveria um carnaval temporão se as refinarias tivessem sido repassadas de graça.

20 / 05 / 2007