RIO DE JANEIRO - Durante anos, Tom Jobim almoçou com os amigos numa churrascaria do Leblon. Mesmos amigos, mesma churrascaria e mesma mesa, bem na entrada. Quem passasse na rua e espichasse o pescoço podia vê-lo e, se quisesse, entrar e pedir-lhe um autógrafo ou até dinheiro emprestado. Mas não me consta que alguém tenha feito isso. Não a ponto de obrigá-lo a trocar de churrascaria ou de mesa.
Outro que circula pelo Leblon é Chico Buarque. Pode ser visto na esquina, esperando o sinal abrir, tomando um café em pé ou caminhando no calçadão -já o vi empurrando um carrinho de bebê com um neto a bordo. Mulheres de 16 a 66 anos o olham com amor, mas ninguém o importuna. E outro que, quando no Rio, sai assobiando por Copacabana é Paulo Coelho. Sem falar em craques como Edmundo ou Romário, que jogam futevôlei na praia, em Ipanema ou na Barra, para tédio até do vendedor de mate.
O Rio tem a tradição de deixar seus famosos em paz. Isso vem desde 1808, quando a família real quebrou o gelo e misturou-se com os súditos pelas ruas. Séculos se passaram, e os artistas, cantores etc. sempre gostaram de morar aqui, porque ninguém lhes dava muita bola e eles se sentiam à vontade.
Mas isso foi antes do celebritismo, vírus surgido alhures e que, com o avanço da tecnologia, não há quem segure. Consiste em fotografar os famosos nas situações mais íntimas e vender essas imagens para sites ou revistas de fofocas. E não se trata só dos paparazzi profissionais, que são conhecidos e alguns ficam até amigos dos famosos.
Hoje, previamente mancomunado, qualquer sujeito armado de um celular é um paparazzo em potencial -pronto a subornar um porteiro ou um vizinho, capturar a alma da celebridade com sua câmera e passá-la adiante por 10 mil réis de mel coado.