domingo, abril 01, 2007

AUGUSTO NUNES Sete Dias

A partida demorou demais

O apagão da aviação civil atormentava havia uma semana multidões de passageiros quando o Aerolula desceu da estratosfera para sobrevoar o Brasil real. O Primeiro Piloto pareceu impressionado com o que vira. "Se vocês não derem uma solução, eu vou dar", avisou em 1º de novembro, depois de sete dias de atrasos nos pousos e decolagens, cancelamentos de vôos, greves ostensivas ou camufladas dos controladores dos ares e outros tormentos impostos aos flagelados das áreas de embarque. Até então, fiel ao estilo aperfeiçoado no primeiro mandato, o presidente fingira que nada daquilo era com ele.

Uma ligeira redução dos barulhos na zona de guerra o induziria a derrapar em outra avaliação insensata. "Acho que a crise acabou", comunicou em 9 de novembro. Diante da estupefação do Brasil que enxerga, atarantado com as dimensões do colapso, Lula fez uma ressalva antes de seguir viagem: "Ainda vivemos um rescaldo", concedeu. "Mas a fase mais complicada já passou. A situação parece ter se normalizado". Ficaria muito pior nas semanas seguintes.

O chefe de governo demorou um mês e meio para retomar o assunto - e admitir, no tom irritadiço de quem passa a vida resolvendo problemas criados pelos outros, que a aviação civil estava imersa na mais grave crise de todos os tempos. Previsivelmente, ouviu-se outra bravata.

"Todo santo dia vou querer um relatório do que está acontecendo em cada aeroporto", anunciou o presidente em 22 de dezembro. É improvável que lhe tenha chegado alguma mensagem do purgatório. Mas pôde saber pelos jornais que o apagão estragou o fim de ano de milhões de brasileiros.

A penúltima bravata sobre o colapso escancarado na primavera foi declamada no primeiro dia do verão. A mais recente viria na primeira semana deste outono. "O país já não se contenta com explicações, precisa é de soluções", descobriu na terça-feira passada o maior governante desde as caravelas.

Proclamada a obviedade, veio o ultimato presidencial: "Quero prazo, dia e hora, para anunciar o fim da crise nos aeroportos". Os motores dos aviões de carreira quase emudeceram de medo. Voltaram a roncar sem pressa, sossegadamente, com a mensagem tranqüilizadora emitida horas depois pelo brigadeiro José Carlos Pereira, presidente da Infraero: "É impossível dizer que uma crise dessas vai acabar dia tal, a tantas horas".

O país teve de contentar-se com a explicação da vez. Naquela quarta-feira, a interdição por 14 minutos do Aeroporto de Congonhas não se devera ao misterioso cão que costuma vadiar por ali. A culpada fora uma pomba que resolveu morrer na pista sem prévia comunicação ao companheiro Waldir Pires, ministro da Defesa.

Mantido no cargo pela teimosia de Lula, o campeão da inépcia se juntaria a controladores amotinados para atrair, na sexta-feira, atenções até então concentradas no mundo animal. Com o colapso aéreo transformado em crise política, não importa quando Waldir Pires deixará o gabinete. Já deixou de ser ministro.


Cabôco Perguntadô
O STF decidiu há tempos que Fernando Collor não tem contas a acertar com o Judiciário. O Senado, na sessão em que o agora representante de Alagoas estreou na tribuna, absolveu-o dos crimes apurados há 15 anos por uma CPI do Congresso. O presidente Lula, durante o caloroso reencontro no Planalto, deixou claro que o antecessor não deve explicações.

O Cabôco pergunta: o que esperam os filhos dos caras-pintadas para exigir nas ruas a inclusão do ex-presidente no novo ministério?


O samba doidão da ministra Matilde

Entrevistada pela rádio BBC Brasil, para uma reportagem sobre os 200 anos da proibição do tráfico de escravos africanos, a ministra-chefe da Secretaria Especial de Política da Promoção da Igualdade Racial mostrou que tem mais palavras no cartão de visita do que neurônios.

"Um negro tem todo o direito de não querer conviver com um branco", derrapou na BBC a mulher que, sustentada pelos contribuintes para combater a discriminação, converteu-se ao racismo pelo avesso. Motivo: "Quem foi açoitado não tem obrigação de gostar de quem o açoitou".

Os conhecimentos de Matilde sobre esse capítulo da História se limitam às letras de samba-enredo que ouve desde criancinha. Essas contam só uma parte da história. Livros sérios ensinam que os próprios negros institucionalizaram a escravidão na África, e que chefes tribais fizeram fortuna ao reduzirem a mercadoria os inimigos vencidos. Amarrados por cordas, eram levados à costa por escoltas formadas por nativos e ali vendidos a europeus.

Em nome da coerência, Matilde Ribeiro precisa ampliar a proibição: negro não pode gostar de branco nem de negro.


Candidata a miss governa o Pará
Não por ter recobrado o pudor, mas por medo da Justiça, a governadora Ana Júlia Carepa cancelou a nomeação para o cargo de "assessora especial" da cabeleireira Manuella Barbosa e da esteticista Francisca Costa, de quem é freguesa há tempos.

Os contribuintes continuarão a patrocinar esses gastos com a beleza, mas Ana Júlia não poderá dispor do pretendido atendimento 24 horas. Agora ficaram menores as chances de, ao deixar o governo, tentar uma candidatura a Miss Pará.


Yolhesman Crisbelles
O troféu da semana vai para o companheiro Adeum Sauer, secretário de Educação do governo petista da Bahia, pela sopa de letras sobre a decisão de entregar a partidos amigos a nomeação de diretores e vice-diretores de 1.856 escolas estaduais:

No Brasil, indicações políticas são um fato sociológico.

O que o secretário chama de "fato sociológico" é só mais um fato criminoso. Não é caso para debates acadêmicos. É apenas um caso de polícia. Merece cadeia.

01 / 04 / 2007