quinta-feira, março 29, 2007

Os paradoxos do novo PIB



editorial
O Estado de S. Paulo
29/3/2007

A revisão das Contas Nacionais, do ponto de vista metodológico, representa um progresso, mas leva a uma conclusão paradoxal: somos mais ricos porque somos mais pobres...

O paradoxo é que em 2006 o PIB cresceu 3,7% em decorrência do aumento de 3,5% no valor adicionado, mas os impostos arrecadados sobre produtos cresceram 5,2%. Uma situação que se reflete na evolução do PIB sob o ângulo da demanda, pois o consumo das famílias, que havia crescido 4,7% em 2005, aumentou apenas 4,35% no ano seguinte, enquanto o consumo do governo aumentava 1,9% e 3,6% nos mesmos anos. O crescimento do PIB, no ano passado, se deveu, pois, essencialmente ao crescimento dos gastos do governo, mas, infelizmente, as contas nacionais não captam a qualidade desses gastos.Na análise do PIB sob o ângulo da demanda, vê-se que a Formação Bruta de Capital Fixo (investimentos) acusou crescimento de 8,7% em 2006, ante 3,6% no ano anterior, embora tenha sido de 16,8% a taxa de investimentos em relação ao PIB, apenas ligeiramente superior à do ano anterior (16,3%). Isso seria um fato positivo na evolução da economia brasileira. Convém, porém, notar que a participação das exportações no PIB caiu de 10,1% em 2005 para 4,6% no ano seguinte, enquanto a das importações subiu de 9,1% para 18,1%, o que indica que a demanda foi essencialmente atendida por bens importados.

Isso aparece também quando se examina o crescimento do PIB sob o ângulo da oferta. Se para a agropecuária se registrou crescimento de 3,2% em 2005 e de 4,1% no ano passado, para a indústria o que se vê é uma redução do crescimento de 3% para 2,8% de um ano para o outro, e na indústria de transformação o crescimento em 2006 foi de apenas 1,6%, enquanto o setor de extração mineral (minério de ferro e petróleo) crescia 6%. O setor de serviços foi dos que mostraram maior dinamismo em 2006, com crescimento de 3,7%, ante 2,4% em 2005, e o subsetor de intermediação financeira apresentou em 2006 crescimento de 6,1%, quase o dobro do dos serviços de saúde e de educação com aumento de 3,1%.

O aperfeiçoamento da metodologia explica em parte as melhorias, embora os dados de 2005 já tivessem levado em conta essa metodologia. O que se espera é que uma visão mais correta da economia brasileira leve o governo à percepção da necessidade de reduzir impostos e gastos correntes para que os investimentos aumentem.