A pesquisa Datafolha publicada ontem contém um elemento de caráter histórico: Lula é o presidente da República mais bem avaliado depois de três meses no Palácio do Planalto desde o retorno do país à democracia. O petista também acaba de bater seu próprio recorde. Em março de 2003 havia registrado 43% de "bom" e "ótimo" (percentual inédito para esse período de administração). Agora, tem 48%. É útil recapitular como se deram os outros presidentes. Collor obteve 36% de aprovação com três meses de mandato. Itamar Franco ficou em 34%. FHC pontuou 39% em março de 1995. Quatro anos depois, em meio a uma grave crise cambial, a imagem do tucano foi dilapidada. Em fevereiro de 1999 (não houve pesquisa em março), FHC registrou 21% de aprovação -menos da metade dos atuais 48% de Lula. O petista tem pesquisas reservadas mostrando resultados semelhantes. Sua leitura é simples: "Para que fazer muita coisa? Minha imagem está ótima". Assim, enrola há quase cinco meses para montar seu ministério. Na metáfora futebolística de Lula, "em time que está ganhando não se mexe". A pergunta a ser feita é: Lula está certo ou errado quando conduz tão lentamente a máquina administrativa, dedicando-se apenas a discursos escalafobéticos (o "ponto G" e o "Putin ficou meio putin")? O tempo dirá. O petista tem o mérito de não ter implantado loucuras administrativas defendidas no passado. O país se estabilizou. Mas o planeta vive seu momento mais virtuoso dos últimos 30 anos. Aqui de perto, em Brasília, a impressão é a de que Lula pode até não produzir um desastre. Mas sua excessiva pachorra operacional e a inapetência por sofisticação administrativa resultarão num capítulo a mais nas já inúmeras oportunidades perdidas por "este país". |