quinta-feira, março 29, 2007

Devagar, quase parando Villas-Bôas Corrêa



Coisas da Política -
Jornal do Brasil
29/3/2007

Depois de seis meses de espera - confortável para quem voa nas asas ligeiras do Aerolula - o presidente Luiz Inácio Lula da Silva dedicou quatro horas da sua agenda para assistir ao fogo cruzado das acusações entre a equipe do Ministério da Defesa, da estatal Infraero, responsável pelo controle do tráfego aéreo, e da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) sobre as causas e justificativas pelo apagão aéreo que inferniza os incautos fregueses de aviões.

Ao final, deu o murro na mesa e anunciou o ultimato de dura severidade: "Não dá mais para dizer à sociedade que não tem problema. Quero anunciar o prazo, com dia e hora para a normalidade do tráfego aéreo".

O desgaste da autoridade presidencial e do governo com a bagunça dos aeroportos, que se arrasta por dias, semanas e meses com enganosos intervalos de relativa normalidade foi sensivelmente agravado com o jogo de empurra da trinca, a perplexidade paralisante do ministro Waldir Pires, da Defesa, e, no céu da lambança, o mau hábito presidencial de empurrar os problemas com a barriga, à espera do milagre da solução espontânea.

Inútil apontar os inconvenientes da tática escapista da procrastinação. É um traço do seu temperamento, exercitado desde os tempos da liderança sindical. Ainda agora, servido em dose dupla: além do calvário de milhares com o apagão aéreo, a falsa reforma ministerial, encolhida para uma simples barganha de ministérios e secretarias, rola por meses para a acomodação dos atraídos pelas vantagens oferecidas na bandeja dos favores oficiais.

O capítulo da novela do inchaço do governo, sem espaço para acomodar tantos convertidos de última hora, registra episódios divertidos de lamentáveis sinais dos tempos. Dos mais singulares, o fecho do negócio com o PDT, ante a dificuldade para encontrar o candidato com as condições mínimas para o ocupar o Ministério da Previdência Social, inicialmente oferecido com a justificativa da sua identificação com as origens brizolistas do partido.

O PDT bateu o martelo na indicação do seu presidente, o deputado Carlos Lupi, que se revelou um especialista em coisa nenhuma e portanto apto a ocupar qualquer pasta ou secretaria. Louve-se a sinceridade do postulante ao reconhecer seu despreparo para o desafio de tirar a Previdência Social da crise crônica de décadas, temperada com a disposição para enfrentar os riscos: "Experiência só se adquire com o tempo. Eu sei ler, sei escrever, me formei com muito sacrifício em administração com o meu trabalho e com o dinheiro de minha mãe, dona Carolina, que ganha um salário mínimo".

Ora, no bingo dos ministérios não se exigiu certificado de competência de ninguém. Nem mesmo a indispensável folha corrida. Até porque a mexida obedece a critérios exclusivamente políticos para as pastas na mesa do rateio. Mas parece que piscou a luz vermelha de advertência, e Lula convenceu o flexível candidato pedetista a trocar o Ministério da Previdência pelo Ministério do Trabalho. Fechada a transação, o ministro Luiz Marinho, do Trabalho, foi deslocado para a Previdência e a pasta entregue ao maleável pau-para-toda-obra.

A caixinha de surpresas da sovada metáfora futebolística reserva outra novidade. Como a reforma política não andou nem andará um passo no Congresso, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ao analisar a consulta do PFL, em decisão moralizadora aprovou, por 6 votos a 1, o princípio de que o parlamentar eleito por um partido não pode trocar de legenda sob pena de perder o mandato. Da decisão cabe recurso ao Supremo Tribunal Federal (STF). Mas foi um largo passo numa verdadeira reforma política com o fim da vergonhosa troca de partidos. Só nesta legislatura iniciante, mais de 50 deputados federais trocaram de legenda.

É cedo para soltar balões. Agora, está nas mãos do STF confirmar o princípio da fidelidade partidária, fechando a barraca das xepas da feira livre da especial estima do baixo clero.