Pergunta de uma cidadã espanhola ao presidente do governo, José Luis Rodríguez Zapatero, em programa de TV na noite de anteontem: "Não entendo como um presidente de governo é capaz de sentar-se com assassinos para dialogar". É referência ao diálogo entre o governo Zapatero e o grupo terrorista basco ETA. Quando é que, no Brasil, a cultura política de governantes e governados permitirá pergunta do gênero, em horário nobre, em um dos principais canais de TV, a grande fonte de informação do público? Pergunta que cabe neste exato momento, ressalvadas as diferenças entre terror e corrupção. Afinal, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não só dialoga como acaricia freqüentemente um grupo que seu procurador-geral acusou de formar "quadrilha". Acusação reforçada, se necessário fosse, agora que a Polícia Federal emite laudo em que fica comprovado que o dinheiro do "valerioduto" saiu dos cofres públicos, ou, mais exatamente, de um banco público (Banco do Brasil). Todo mundo já sabia que só poderia ter sido essa a origem, posto que é inimaginável que Marcos Valério fosse um mecenas a bancar os trambiques de deputados do PT e da base aliada. Mas agora, ao elementar bom senso, soma-se uma perícia técnica. Não adianta fingir que Marcos Valério é o único "quadrilheiro" nessa história. Toda a cúpula do PT de então (o presidente José Genoino, o secretário-geral Sílvio Pereira, o tesoureiro Delúbio Soares, para não mencionar José Dirceu, punido precisamente por essa história) participou do esquema. Caberia, portanto, repetir a Lula a pergunta da espanhola a Zapatero, trocando poucas palavras: "Não entendo como um presidente de governo é capaz de sentar-se com trambiqueiros para dialogar (e, pior, governar)". |