quinta-feira, março 01, 2007

Celso Ming - Continua pífio



O Estado de S. Paulo
1/3/2007

O avanço do PIB de 2006, de 2,9%, foi um pouco melhor do que o esperado, mas, ainda assim, medíocre.

Há aqueles que se apegam aos juros altos e culpam o Banco Central pelo baixo crescimento. Não conseguem explicar por que, desde setembro de 2005, os juros já caíram 6,5 pontos porcentuais e, no entanto, a reação do sistema produtivo continua pífia.E há os que apontam o dedo para excessivas despesas públicas que exigem carga tributária alta, juros escorchantes, deixam pouco para o investimento, elevam o custo Brasil e tiram competitividade do produto nacional.O presidente Lula, frustrado com a falta do espetáculo do crescimento tão anunciado e nunca acontecido, preferiu denunciar as travas e sugeriu que tinham a ver com atrasos no licenciamento ambiental e no marco regulatório. Mas, a rigor, essas travas não são muito diferentes da sempre presente e nunca resolvida questão fiscal, que nada mais é do que o governo gastando demais.As estatísticas do PIB podem ser aferidas tanto pelo lado da oferta (produção) como pelo lado da demanda (consumo). Duas são as observações a fazer, ambas a partir dos dados tomados no lado da demanda. A primeira é a boa expansão dos investimentos, que os técnicos chamam de Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), de 6,3% sobre o ano anterior. Como investimento hoje é mais produção amanhã, este poderia ser, em princípio, um prenúncio de melhora nos próximos anos. Mas tem uma limitação. Nada menos que 80% da FBCF corresponde a atividades de construção civil e esta ficou concentrada na expansão da construção de habitações, que melhora as condições do trabalhador, mas não propicia maior produção futura.

O segundo ponto para análise é a expansão do consumo das famílias, de 3,8% em comparação à de 2005. Ficou abaixo da esperada, mas suficientemente alta para continuar indicando que o consumo cresce mais (3,8%) do que a produção e a renda. A diferença é suprida pelas importações.Há alguns anos, o IBGE estava devendo maior rigor nas Contas Nacionais. E, a partir de março, deverá divulgar revisão da série histórica com critérios mais precisos. Uma das deficiências é a subestimação dos efeitos da queda da inflação sobre a renda do brasileiro. A expectativa é a de que a revisão apontará aumento do PIB. Se isso se confirmar, alguns dos macronúmeros da economia que se medem pelo PIB terão impacto. A dívida pública, hoje de 50% do PIB, pode ficar mais baixa, o que não deixaria de ser visto como melhora. Em compensação, o superávit primário (sobra de arrecadação para pagamento da dívida), que deverá ser de 3,75% do PIB neste ano, teria de ser maior em reais, o que poderá exigir corte das despesas ou maior arrecadação. A conferir.