sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Palpite infeliz - Nelson Motta




Folha de S. Paulo
2/2/2007

Se um mensaleiro, um sanguessuga, um aloprado ou um Zé Dirceu dizem que o Legislativo foi desmoralizado e destruído pela grande mídia dominada pelas elites econômicas, é compreensível, eles querem salvar a pele, defender sua boquinha, têm o direito de espernear. Mas, claro, ninguém acredita neles -nem eles mesmos.
Mas, se o provável futuro ministro da Justiça Tarso Genro, homem honesto, que não está ameaçado por nenhuma acusação, é quem está dizendo -e acreditando-, certamente vamos ter muitas saudades de Márcio Thomaz Bastos e de sua Polícia Federal republicana.
Se o comandante-em-chefe do aparelho judicial e das forças de segurança pública desconfia de que as ladroagens e os escândalos que levaram aos tribunais um terço da Câmara são fruto de insidiosa campanha da grande mídia em defesa de interesses inconfessáveis, como diz o provável futuro ex-ministro Waldir Pires, só nos resta rezar.
Se essa grande mídia foi capaz de tal torpeza, então deve passar a ser o foco da investigação sobre o abominável crime de lesa-pátria que é desmoralizar e destruir o Poder Legislativo.
As perguntas não são mais quem pagava, quem recebia, quem mandava e quem sabia, mas por que a grande mídia escolheu essa legislatura, logo essa, como alvo de sua conspiração antipatriótica? Para atingir Lula? Para acabar com o Partido dos Trabalhadores? Isso tem de ser investigado a fundo.
O procurador-geral da República deve estar em pânico, temendo ser arrolado como cúmplice na conspiração, por ter denunciado dezenas de parlamentares ao Supremo Tribunal Federal.
A melhor hipótese é que o provável futuro ministro, para tentar garantir a vaga, tenha falado só para agradar Lula. A pior é que a Justiça seja mesmo cega.