PANORAMA ECONÔMICO |
O Globo |
23/2/2007 |
A safra de soja, finalmente, volta a dar sinais de vida. Alívio enorme para boa parte dos agricultores e também para a economia do país. O produto equivale hoje a 45% da área plantada com grãos no Brasil e a 23% da receita agrícola, sem falar que o complexo soja é hoje dos principais itens de exportação. Essas boas novas também trazem um respiro para os fabricantes de máquinas agrícolas, que, nos últimos dois anos, perderam 41% de seu faturamento. Quem não acompanha o assunto - nem é vegetariano - costuma conhecer a soja apenas pelo óleo. Assim, às vezes, fica até difícil entender a enorme importância do grão. A soja é item fundamental na dieta alimentar de vários países e, além disso, é usada como ração de frango mundo afora. O Brasil se especializou no seu cultivo e hoje alterna com os Estados Unidos a liderança na exportação mundial do grão, mas o próprio Departamento de Agricultura americano calcula que o Brasil, daqui a 10 anos, vai liderar as exportações mundiais. Nos últimos dois anos, a soja passou péssimos bocados no Brasil. O dólar se desvalorizou e o preço internacional da commodity também caiu. Já os fertilizantes não tiveram a mesma queda. Além disso, os produtores sofreram muitas perdas com a seca e a ferrugem asiática. O resultado foram dívidas de bilhões de reais. Para pagá-las, os produtores contaram com a ajuda do governo. Porém, no fim do ano passado, a boa notícia veio quando os Estados Unidos decidiram investir pesado no etanol feito do milho. Áreas lá antes usadas para a soja foram destinadas ao milho, e o preço da soja acabou subindo 16% no fim de 2006. - De repente, o mercado começou a virar. Foram três fatores que mudaram a situação: o aumento do preço das commodities com a decisão americana, a queda dos custos de produção em 15%, 20% com a ajuda do dólar e o próprio clima. Choveu bem. Em Mato Grosso, até mais que devia - contou Paulo Herrmann, diretor de marketing da americana John Deere, uma das maiores fabricantes de colheitadeiras de grãos do país. Mesmo com um crescimento das vendas em torno de 40%, Herrmann se queixa de que os produtores estão comprando apenas o indispensável para conseguirem colher o "mar de soja" desta safra. Nos últimos dois anos, a venda de colheitadeiras de grãos saiu de 5.000 para 950 e este ano deve chegar a 1.500. Por outro lado, contando que a má fase uma hora acaba, a John Deere vai inaugurar, no segundo semestre, uma fábrica nova de tratores no Rio Grande do Sul. O presidente da Abimaq, Newton de Mello, também acompanha com atenção o que acontece nesta safra de soja, que começa a ser colhida: - Em 2005, houve uma queda brutal, de 40%, no faturamento das máquinas agrícolas. As de grãos chegaram a cair 60%. Cítricos, cana e café foram o contrapeso. Os agricultores estavam endividados, mas hoje a situação é melhor - diz. No ano passado, a queda foi menor, de 0,8% no faturamento; mas a importação caiu forte: 10%. As máquinas agrícolas produzidas aqui não sofrem tanta concorrência chinesa, porque, como a agricultura dos dois países é diferente, fica difícil adaptá-las. O Brasil exporta para países com cultivos semelhantes, como Argentina, México e Estados Unidos. O gráfico abaixo mostra o que aconteceu com os bens de capital em geral e com os bens de capital agrícolas nos últimos anos. A curva do crescimento acumulado em 12 meses ainda está negativa, mas já começou a se inverter. Além do sinal vindo das máquinas, um outro dado indica que a safra virá melhor. Aumentaram em 68,3%, em fevereiro, as importações de adubos e fertilizantes. O Comentário Quinzenal da MB Associados destaca que o complexo soja vai ajudar na balança comercial brasileira em 2007, pois "os preços internacionais melhoraram, a produção interna aumentou e a demanda chinesa pelo produto tem aumentado". Para o IBGE, a safra de soja deve crescer 8%, empurrando para um aumento na colheita de grãos de 9,7%. A Conab calcula elevação de 5,4%. André Pessôa, da Agroconsult, também está confiante na virada da soja, mas ele acha que a situação ainda continuará complicada para os produtores do Centro-Oeste, sobretudo de Mato Grosso, nos próximos anos. Lá, com terras mais vastas, eles compraram mais máquinas e se endividaram mais que os produtores do Sul. Além disso, o Sul enfrenta menos problemas de logística. |