terça-feira, fevereiro 27, 2007

Ex-embaixador fala no Senado sobre críticas ao Itamaraty

No dia em que seu sucessor entrega credenciais, Abdenur explicará antiamericanismo que atribui ao governo Lula

Denise Chrispim Marin

As relações Brasil-Estados Unidos no governo Lula vão exibir na manhã de hoje um contraste curioso. Em Washington, o diplomata Antônio Patriota entregará suas credenciais de embaixador do Brasil nos EUA ao presidente George W. Bush. Em Brasília, os membros da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado pretendem registrar as críticas ao 'antiamericanismo e à orientação ideológica' do Itamaraty feitas pelo embaixador Roberto Abdenur, antecessor de Patriota e ex-aliado do chanceler Celso Amorim.

Esses movimentos contrários se darão a apenas dez dias do encontro de Bush com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em São Paulo, onde ambos assinarão acordos de cooperação na área de biocombustíveis que darão base a uma parceria estratégica no setor. A expectativa do governo é que essa iniciativa permita aprofundar e diversificar as relações bilaterais, sem ferir a prioridade do governo Lula à parceria com os vizinhos sul-americanos e demais países em desenvolvimento, a chamada Cooperação Sul-Sul.

No início de fevereiro, logo depois de ter deixado a embaixada do Brasil em Washington, Abdenur atacou justamente essa baliza. Afirmou à revista Veja que a definição da Cooperação Sul-Sul como o principal eixo da política externa do governo Lula 'revela um antiamericanismo atrasado' e acusou o Itamaraty de adotar um 'processo de doutrinação' dos diplomatas. Para ele, o elemento ideológico dominou a gestão Lula, na área externa. Próximo durante décadas do ministro Amorim, de quem foi secretário-geral em 1994, Abdenur chegou a afirmar na entrevista que o chanceler já não é mais seu amigo. O conteúdo de suas críticas e sua posição de veterano da diplomacia brasileira levaram os senadores tucanos Eduardo Azeredo (MG) e Flexa Ribeiro (PA) a convocar Abdenur para a audiência pública na comissão.

Aos 52 anos, Patriota comandará uma representação do Brasil no exterior pela primeira vez e justamente pelo posto mais importante. Promovido a embaixador em 2003, o diplomata segue desde 1995 os passos de Amorim, de quem tornou-se 'fidelíssimo escudeiro'. Ambos atuaram juntos nas missões do Brasil em Nova York (na Organização das Nações Unidas) e em Genebra.