editorial |
O Estado de S. Paulo |
27/2/2007 |
“Vamos aumentar a pressão, gastar mais o nosso gás, porque esse governo é igual feijão velho e duro - se não botar na panela de pressão, não cozinha.” Estas palavras da porta-voz da coordenação nacional do Movimento dos Sem-Terra (MST), Marina dos Santos, expressam a estratégia global do movimento, a ser desenvolvida em muitas frentes e praticamente todas as regiões do País, a partir de março e tendo em abril seu ponto culminante - mas nem por isso devendo arrefecer no resto do ano. Trata-se de uma espécie de estratégia do esbulho. A estratégia emessetista pretende não apenas repetir o volume de invasões e ocupações de propriedades rurais ocorridas no primeiro mandato do presidente Lula, especialmente em razão do desrespeito (sem derrogação) à lei vigente no governo anterior, que proibia a distribuição pelo programa de reforma agrária de terras invadidas, antes de dois anos de sua desocupação. Até mesmo o “Abril Vermelho” de 2004, que representara o ápice da violência levada por esses movimentos ditos “sociais” ao meio rural, com a exacerbação de suas práticas “habituais” de derrubadas de cercas, matança de animais, depredação de sedes e de equipamentos de fazendas, colocação de empregados rurais em cárcere privado, afora a ocupação de rodovias, saques de cargas de caminhões, depredação e saques de cabines de pedágio e outros vandalismos assemelhados, não parece, aos atuais líderes do MST, pressão suficiente a ser repetida. O objetivo é buscar-se um upgrade no esbulho, um novo patamar de operações mais vastas, intensas e abrangentes, tendo em vista não só a rapidez de execução no programa de reforma agrária, mas a contestação de determinadas políticas governamentais e o ataque a empresas do setor do agronegócio, especialmente as que atuam com reflorestamento e sementes patenteadas. Partindo do diagnóstico que vislumbra uma esquizofrenia (ou dupla personalidade) do governo, que seria “eficiente e capaz para as grandes empresas e governinho para os pobres”, o MST e seus coligados organizam, com precisão, um programa destinado a atingir um nível sem precedentes de invasões, ocupações e manifestações públicas em favor de suas peculiares diretrizes ideológicas. Em março o Movimento dos Atingidos Por Barragens (MAB), que reivindica terras para famílias que foram desapropriadas com a construção de hidrelétricas, fará manifestações nas capitais, para protestar contra o preço das tarifas de energia. O MST participará de atos contra o presidente norte-americano George W. Bush, cuja visita ao Brasil, com projetos para o setor de produção de álcool, é vista com o viés nacionalista, que se opõe à ingerência estrangeira no modelo de produção agrícola nacional.No mesmo mês a Via Campesina, organização internacional (de agricultores subsidiados europeus) que no Brasil congrega cinco entidades, entre as quais o MST e a Comissão Pastoral da Terra - que aí não vêem qualquer traço de “ingerência estrangeira” -, desencadeia uma série de ações contra o agronegócio, sempre com pretextos ambientalistas, mas na verdade contrários a qualquer avanço científico-tecnológico que favoreça o desenvolvimento, a produtividade e a competitividade internacional da agricultura e da pecuária brasileiras. É verdade que o MST tem seus problemas de disputa interna de poder, que resultam em precipitação de ações de líderes defenestrados, tal o caso de José Rainha Júnior e as 13 fazendas que invadiu no Pontal do Paranapanema, em também contestada joint venture com setores da Central Única dos Trabalhadores. Rainha, considerado um dissidente pela direção nacional do MST, age “por conta própria”, nada tendo a ver as suas ações no Pontal com a “estratégia de esbulho” que descrevemos neste editorial. No momento ele está mais entretido com as autoridades estaduais de São Paulo do que com as federais. Do ponto de vista dos esbulhados, no entanto, não há distinções a fazer. Os efeitos dos esbulhos são os mesmos, sejam quais forem seus autores. |