sábado, fevereiro 24, 2007

Diogo Mainardi


Ia ser drástico,
mas ia ser legal

"Trinta por cento da cocaína que passa pelo
Brasil vem da Bolívia. Nós acabamos de dar
um monte de dinheiro aos bolivianos: 100 milhões
de dólares ao ano. O que Lula acha de exigir uma
contrapartida de Evo Morales, condicionando a esmola
da Petrobras à luta contra os produtores de droga?"

Luana Piovani foi ao Sambódromo. Festejou a noite toda. Depois declarou que se sentia quase culpada por estar se divertindo em meio às notícias sobre o assassinato do menino carioca. Ela até comentou minha coluna da semana passada, em que eu pedia o cancelamento do Carnaval:

– Ia ser drástico, mas ia ser legal.

Nizan Guanaes mandou espalhar cartazes pelo Rio de Janeiro. Os cartazes dizem: "Um garoto de 6 anos foi arrastado cruelmente por 7 km. E aí... Nós não vamos fazer nada?" O publicitário esclareceu o sentido de sua campanha. Para ele, só há uma maneira de acabar com a criminalidade:

– É a sociedade que tem que resolver isso.

Luana Piovani está errada. Nizan Guanaes está errado. Quem tem de se sentir culpado pelo assassinato do menino carioca é o Estado. Quem tem de fazer algo contra a criminalidade é o Estado. Por mais que Luana Piovani e Nizan Guanaes esperneiem, por mais que Kelly Key chore, por mais que a sociedade se mobilize, o Estado continuará a tolerar os criminosos.

Lula sempre foi claro quanto a isso. Em 2003, durante uma onda de atentados do crime organizado, ele afirmou que, em vez de subir os morros à procura dos bandidos, a polícia deveria vasculhar as coberturas das grandes cidades, onde estariam escondidos, segundo ele, "os verdadeiros culpados".

Na época, notei que o próprio Lula era dono de uma cobertura, adquirida de maneira nebulosa alguns anos antes. Para quem se interessar pelo assunto, recomendo as reportagens de Luiz Maklouf Carvalho que tratam dos negócios de Roberto Teixeira com o presidente e com as prefeituras do PT. Mas o fato é outro. O fato é que, para Lula, o pobre que rouba um Corsa nunca poderá ser plenamente responsabilizado por seu crime. O culpado – o verdadeiro culpado – é o proprietário do Corsa.

Os criminosos têm de ser enfrentados com mais policiamento, com mais armas, com mais cadeias, com penas mais duras, com mais tecnologia. O resto é lulice. Quem atribui à sociedade um papel na luta contra o crime só está acobertando o poder público. E o poder público já escolheu seu lado. É o lado de lá. É o lado do inimigo. O que aconteceu nas últimas semanas, desde que o menino carioca foi morto? Os prefeitos se mexeram? Os governadores se mexeram? O presidente se mexeu? Ninguém se mexeu.

Lula já deu seu palpite sobre a maioridade penal. Eu quero saber o que ele pensa a respeito de algo mais prático, mais elementar, como o uso de tornozeleiras eletrônicas. É bom? É ruim? Outro exemplo: 30% da cocaína que passa pelo Brasil vem da Bolívia. Nós acabamos de dar um monte de dinheiro aos bolivianos: 100 milhões de dólares ao ano. O que Lula acha de exigir uma contrapartida de Evo Morales, condicionando a esmola da Petrobras à luta contra os produtores de droga?

Ia ser drástico, mas ia ser legal.