SÃO PAULO - Quem ainda lê o noticiário político está sendo embromado há praticamente quatro meses com noticiário inútil em torno da reforma ministerial. Nunca neste país, para me apoiar na muleta retórica do presidente, foi tão oco o debate em torno da composição do ministério. Nunca se diz uma palavra sobre duas coisas essenciais: 1 - Quais os planos e projetos de cada partido que ambiciona sua cota de poder no governo Lula? 2 - Quais os planos e projetos de cada "ministeriável" apresentado pelos partidos ao presidente? Alguém aí acha, a sério, que o PMDB, por exemplo, tem algum plano ou projeto para o país? Não tem nem pode ter, porque, para ficar em apenas dois nomes, Roberto Requião, governador do Paraná, e Delfim Netto, neoguru de Lula, não falam a mesma língua, embora ambos sejam do PMDB. Poderia estender a lista dos incompatíveis entre si no partido (e em vários outros, quase todos aliás) até acabar o espaço desta coluna. Nem o PT, que passou seus primeiros 20 e poucos anos sendo repetidamente citado como único partido realmente ideológico, tem um projeto para o Brasil. Tanto que várias de suas lideranças/correntes ficam falando em "socialismo", como se fosse possível qualquer coisa remotamente parecida com essa palavra em um governo cujo chefe já disse que não é bom da cabeça quem, de velho, continua de esquerda. Sem falar que os quatro primeiros anos de Lula foram de rendição absoluta ao velho capitalismo. Você aí tem alguma idéia do que Marta Suplicy faria de diferente do atual ministro das Cidades? Nunca ninguém disse a diferença, até porque pouca gente sabe o nome do ministro (Márcio Fortes) e o que ele fez até agora, se fez. Não seria mais honesto trocar a expressão "reforma ministerial" por "repartição do butim"?
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