sábado, fevereiro 24, 2007

Carnaval violento na Bahia

Não há trégua

As estatísticas desmentem a crença de que
os bandidos descansam durante o Carnaval


Victor De Martino

Walter de Carvalho/AE
Em Salvador, jovem socorre mulher ferida: um afoxé de pancadas

A bandidagem mostrou que não quer saber de trégua no Carnaval. Em Salvador, um dos destinos mais procurados pelos turistas, os índices de violência subiram 24% em relação aos do ano passado. Ocorreu um crime a cada quatro minutos na capital baiana. No circuito dos trios elétricos e em outros pontos de aglomeração de Salvador, foram registrados 1.403 roubos. Antes famoso por lançar seus modismos musicais, o Carnaval baiano inovou, desta vez, disseminando um novo tipo de assalto: os arrastões em ônibus. Bandos compostos de até cinqüenta homens atacaram 59 veículos. Roubaram cobradores, passageiros e, ao final, depredaram os coletivos. Os casos de agressão física também se multiplicaram nos dias de festa. A polícia registrou 444 ocorrências desse tipo, 46% mais do que em 2006. O governo baiano admite que esses números não representam toda a violência dos festejos. Pelos registros de atendimentos nos hospitais, é possível estimar que os episódios de agressão chegaram a 1.714.

Embora Salvador tenha sido a cidade onde a incidência de crimes mais cresceu no Carnaval, ela ainda foi menor do que a do Rio de Janeiro, onde aconteceu um crime a cada três minutos e vinte segundos. Dos três principais destinos carnavalescos, apenas o Recife e Olinda apresentaram melhora em relação ao ano passado. Nos dias de farra, o consumo exagerado de álcool contribui para aumentar o número de agressões físicas. Já os roubos crescem porque as aglomerações são maiores, o que facilita o trabalho dos gatunos.

A verdade é que sobram fantasias (em todos os sentidos) e faltam fardas. Para reduzir a criminalidade – e não só durante o Carnaval, enfatize-se –, seria necessário mais policiamento ostensivo. O Brasil, no entanto, continua longe de ter uma abordagem objetiva quando o assunto é bandidagem. Apesar das estatísticas preocupantes, os governos estaduais preferiram alardear que seus Carnavais foram tranqüilos. Em vez de reconhecer o problema, o governador Jaques Wagner, da Bahia, acusou a imprensa de desmerecer sua festa. Foi uma declaração infeliz.