A onda de crises financeiras que sacudiu o planeta na segunda metade da década passada começou com o colapso do baht, a moeda tailandesa. Lembro-me bem de que, em almoço na Folha, Carlos Heitor Cony brincou que jamais poderia imaginar, mesmo com toda a sua longa vivência no jornalismo, que um dia teria de saber o que era o baht. Bom, no ano passado, quando o governo tailandês fez uma barbeiragem qualquer, mas não houve contágio no resto do mundo, a não ser rápido e superficial, ouviu-se um suspiro global de alívio. O raciocínio não explicitado era o seguinte, caricaturando um pouco: se a Tailândia derrubou o mundo há dez anos, mas agora não aconteceu nada, a economia mundial está a salvo de crises financeiras. Talvez. Mas dois pesos pesados da banca (oficial) não estão tão seguros. Zhu Min, vice-presidente do Banco da China, disse, durante o encontro anual do Fórum Econômico Mundial, que o mercado de derivativos representa a fabulosa soma de US$ 300 trilhões (sim, trilhões), ou oito vezes a riqueza produzida a cada ano pelo mundo, sem que a turma esteja realmente atenta ao fenômeno. Derivativos é a parte francamente cassino do jogo financeiro global. Significa apostar em tudo, da cotação do boi à dos juros. O francês Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central europeu, ecoou Min ao dizer que a "criatividade e a sofisticação" dos novos instrumentos financeiros impedem que se saiba "plenamente onde os riscos estão". O "Financial Times" põe em uma altura ainda mais vertiginosa o volume dos instrumentos "criativos": US$ 450 trilhões. É tanto dinheiro que o mundo de Davos preferiu passar sobre o tema como gato sobre brasas, talvez por ser o único eventual futuro raio no céu azul desenhado para a economia planetária. |