Laudo complementar aponta mais
problemas em urnas alagoanas e
reforça suspeita de ação criminosa
Diego Escosteguy
Montagem sobre fotos de Pedro Rubens e Roberto Setton |
O professor Fernandes: falhas demais para não ser fraude |
VEJA revelou na semana passada o conteúdo de um laudo elaborado pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) que apontava evidências de fraude em urnas eletrônicas de Alagoas nas eleições do ano passado. O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, o ministro Marco Aurélio Mello, classificou as informações como "preocupantes" e requisitou uma auditoria para aprofundar as investigações. Técnicos do tribunal, no entanto, se apressaram em afirmar que os problemas detectados se resumiam a falhas nos arquivos que registram a memória das urnas, os chamados "logs", e que isso não comprometia o resultado das eleições. Ou seja: os casos das urnas que registravam mais eleitores do que votos ou das que não registraram voto algum seriam resultado de um simples defeito na memória de um lote de equipamentos mais antigo. Os técnicos podem ter se precipitado. Laudo complementar elaborado pelo professor Clovis Torres Fernandes, do ITA, mostra que as falhas não se resumem aos registros de memória. Há divergências graves envolvendo outros programas das urnas alagoanas que reforçam a suspeita de que elas podem ter sido criminosamente manipuladas.
Na análise da memória da urna, o "log", a perícia já havia encontrado uma discrepância entre o número de eleitores que compareceram às urnas e o número de votos contabilizados. Os registros indicam que 22 562 votos deixaram de ser totalizados sem que se saiba onde foram parar. Podem ter sido subtraídos de algum candidato ou nem ter existido. Diante da possibilidade levantada pelo TSE de que isso poderia se resumir a uma falha, o professor Clovis Fernandes decidiu verificar o programa responsável pela contabilização dos votos. Chamado de Registro Digital de Votos (RDV), o programa também apresentou problemas em nada menos que 98 urnas periciadas. Há nessas urnas um desencontro entre os votos registrados na memória do equipamento e o número efetivamente contabilizado. Ou seja: os eleitores votaram, segundo a memória, mas nem todos os votos apareceram na totalização, conforme o RDV. O registro digital também estaria com defeito?
Em 459 urnas, a perícia descobriu outras anomalias que sugerem manipulação criminosa dos equipamentos O programa responsável por iniciar os trabalhos do aparelho, chamado de SCUE, foi acionado depois de encerrada a votação. Há o caso de uma urna que foi ligada às 22 horas – cinco horas depois do fim da eleição. Ou é outro defeito ou alguém resolveu testar a urna na calada da noite. E por que alguém faria isso? O professor Fernandes espanta-se: "Não sei como podem ocorrer tantas falhas sem que se trate de uma fraude. Existe um descontrole generalizado nas urnas de Alagoas, e esses novos dados reforçam a necessidade de uma auditoria realmente independente". São cada vez mais sólidas as evidências técnicas de que as urnas alagoanas foram alvo da ação de criminosos. Porém, ao contrário do que alguns críticos imaginam, é o próprio sistema que está revelando o problema. Isso mostra que o voto eletrônico, além de moderno e eficiente, também é seguro contra fraudes. Basta ficar de olho em seu uso.