sexta-feira, dezembro 01, 2006

Um PIB que não 'destrava'...



editorial
O Estado de S. Paulo
1/12/2006

Se ainda existisse esperança de um crescimento de 4% do PIB neste ano, como se previu na elaboração do orçamento, ela desapareceu com a divulgação do PIB do terceiro trimestre. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) reagiu a essa divulgação, reduzindo de 2,8% para 2,7% sua previsão do crescimento do PIB neste ano. De fato, para atingir 3% seria necessário um aumento de 4,4% no último trimestre do ano.

Já se sabia que o resultado do terceiro trimestre seria pífio. E, se foi maior do que o do trimestre anterior, o motivo é até irônico: uma revisão do crescimento do trimestre anterior o reduziu de 0,5% para 0,4%.

Mais interessante é analisar a evolução do PIB por setores e pelo lado da demanda. Entre os de maior aumento está a agropecuária (1,1%, ante 1,6% no trimestre anterior), evolução que parece explicável pela produção de café. A indústria, que havia ficado estagnada no 2º trimestre, cresceu 0,6% no 3º, ao mesmo tempo que os serviços, setor que emprega o maior contingente de mão-de-obra, passou de 0,6% para 0,4%.

Examinando o PIB do lado da demanda,verifica-se que é o comércio exterior que puxa o modesto crescimento: a exportação, que havia acusado (em volume) redução de 5,1%, aumentou 8,6%, e a variação é ainda mais significativa na importação, que, de uma queda de 0,1%, cresceu para 8,5%. Essa evolução se reflete em outros componentes da demanda. Se a indústria cresceu 0,6%, mais do que o consumo das famílias (0,5%), é que as exportações sustentaram a produção industrial.

Não se pode deixar de assinalar o crescimento da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que de um trimestre a outro passou de 0,2% de queda para 2,5% de aumento - reflexo do crescimento das importações de bens de capital, bem como do deslanche da construção civil em resposta aos incentivos do governo.

Os investimentos na construção civil atendem a uma demanda reprimida, ao mesmo tempo que estão contribuindo para aumentar a demanda de bens e serviços num setor que emprega muita mão-de-obra não qualificada.

No entanto, seria importante que houvesse um aumento dos investimentos na indústria, para baratear o preço dos produtos e elevar a capacidade de competição do Brasil no exterior.

Ao governo cabe cuidar do fator que impede um crescimento maior da economia: a alta carga tributária.