quinta-feira, dezembro 28, 2006

O Brasil é aqui Por Reinaldo Azevedo


São 18, até agora, os mortos na onda de violência que começou nesta madrugada no Rio. Há 20 feridos. Sete das vítimas fatais estavam num ônibus da Itapemirim que seguia para São Paulo e que foi incendiado. Os alvos foram uma cabine da PM em Botafogo; o Shopping Carioca; a 6ª DP (Cidade Nova); a 28ª DP (Campinho); um carro do 31ª Batalhão que estava na avenida Ayrton Senna; um outro carro da polícia que estava na Lagoa; o Destacamento de Policiamento Ostensivo em Mesquita; dois ônibus no Trevo das Missões; uma cabine da PM no shopping Nova América; dois ônibus na área do 14º Batalhão da PM (Bangu); um carro do Batalhão de Policiamento de Vias Especiais na Perimetral e o Destacamento de Policiamento Ostensivo da PM do Alto da Boa Vista.

O modus operandi do PCC pegou, fez escola. As grandes cidades brasileiras passarão a enfrentar, a partir de agora, além daquela violência corriqueira, que já mata mais do que a maioria das guerras, a prática terrorista. Em nome de qual causa? De nenhuma! Essa violência não tem origem social; essa violência não tem qualquer vínculo com a pobreza; essa violência não se corrige com escola, hospital, ONG, igreja, trabalho social. Essa violência se combate com investimento em segurança pública e repressão eficiente, o que implica trabalho de inteligência.

Justamente aquilo tudo que não temos tido. Vocês verão. O Jornal Nacional fará uma reportagem exemplar a respeito, dando conta da gravidade do caso. Autoridades serão ouvidas – quem sabe Márcio Thomaz Bastos, que está deixando a Justiça. Alguém se lembrará de tirar do arquivo morto o Sistema Único de Segurança Pública, que só existe no papel. Outro ainda dirá que, desta vez, será mesmo para valer. E vejam só: não vai acontecer nada.

Há áreas em São Paulo, Rio, Vitória, Salvador, Belo Horizonte, Porto Alegre etc. onde a Polícia não entra. Porque são territórios do narcotráfico. Ali, a Bandeira Brasileira não quer dizer nada, e o Estado de Direito que vigora é o da bandidagem. Sucessivos governos fazem o quê? Buscam estabelecer a pax com o crime para poderem declarar que a situação está sob controle. Ao faze-lo, cedem ainda mais poder aos bandidos, que acabam cobrando a fatura cedo ou tarde.

Reparem que a violência explode no Rio num momento de troca de governo, o que aconteceu também em São Paulo. É o cartão de boas vindas a quem chega. Para mostrar quem manda. Os governos de Estado podem se esforçar o quanto for. Sua ação será sempre limitada. Esse é um combate para o governo federal. Que está inerme. Como sempre.

Segundo o Ibope, 83% dos brasileiros estão satisfeitos ou muito satisfeitos com a vida. É um povo alegre. Quem sabe um dia a gente já não dê bola nem mais para os cadáveres. Pularemos por cima e seguiremos versejando, no rismo do pancadão. No Haiti, um dos países mais desgraçados do mundo, a larga maioria da população acredita que pode espetar uns bonecos para conseguir o que deseja.