Panorama Econômico |
O Globo |
1/12/2006 |
O crescimento do PIB no terceiro trimestre foi fraco. Mais uma decepção num ano em que a economia veio minguando. O consumo das famílias tem puxado o PIB, cresce há 13 trimestres e, neste terceiro, aumentou 0,5%. Em parte, ele cresce pela melhora na renda e no mercado de trabalho; em parte, é resultado do crédito. Nos últimos dois anos, o crédito se expandiu até em períodos em que os juros subiram. No ano passado, o crédito consignado aumentou a uma taxa de 100%; este ano, até outubro, o aumento foi de 44%. É o crédito mais barato do país para pessoa física; mesmo assim, essa expansão num país com juros tão altos pode ser perigosa. Além disso, a queda dos juros não chegou a todas as modalidades de crédito. O economista Miguel de Oliveira, da Anefac, diz que, das seis taxas que ele acompanha, duas não caíram. - Se compararmos outubro contra outubro do ano passado, os juros da Selic caíram seis pontos percentuais; os juros da pessoa física caíram 4,5 pontos percentuais, quando deveriam ter caído mais, porque as taxas são mais altas. Mas não caíram os juros do crédito de loja e os do cartão de crédito. Em outros países, o crescimento do consumo puxado pelo endividamento pode dar certo. Aqui neste país em que o mercado de crédito tem tão pouca lógica, é um risco. O Brasil vive uma explosão de cartões. Para se ter uma idéia, de 2000 a junho deste ano o aumento do número de cartões de crédito e de débito foi de 200%. Os brasileiros tinham 119 milhões de cartões e agora têm 358 milhões, quase dois cartões para cada brasileiro. Mesmo com a ajuda do crédito fácil, o PIB no terceiro trimestre ficou abaixo do que se esperava. Na verdade, ficou na média das previsões, mas das que foram sendo ajustadas ao longo dos últimos meses, porque, quando o trimestre começou, a expectativa é de que fosse um período de crescimento mais forte. Previa-se mais de 1% de aumento do PIB sobre o segundo trimestre, e foi 0,5%. Houve a greve na indústria automobilística, redução da produção da Petrobras, queda na venda de eletrodomésticos. O quarto trimestre vai ser mais forte, mas dificilmente será o suficiente. O economista Luis Otávio Leal, do Banco ABC/Brasil, diz que, para chegar a 3% de crescimento no ano, o país teria que crescer mais que 2% no último trimestre (não há um número assim desde 1998). Para os 3,2% do governo, seria preciso mais de 3% de crescimento no quarto trimestre, coisa que não acontece desde 1996; ou seja, seria preciso outro impacto como o do Real. Isso sem falar no fato de que esses 3,2% foram previstos agora, porque até recentemente o governo achava que o crescimento do PIB poderia ser de 4%. Uma boa notícia é a expansão da Formação Bruta de Capital Fixo, ou seja, o investimento. Anualizada, ela indicaria um aumento de 10,38% no investimento, número considerado "bem robusto" por Luis Otávio. No ano, até agora, o investimento cresceu 6% e o PIB 2,5%. Nos números do PIB, há dados que preocupam e outros que animam; há notícias ruins, e outras que compensam. Não é inteiramente uma má notícia para quem já se conformou com o baixo crescimento brasileiro. Mas quem quiser comemorar não deve olhar para os lados, onde os países, mesmo perto de nós, crescem a taxas bem mais fortes. Uma boa notícia, que se consolidou nos últimos tempos, é que a economia americana não vai despencar. - A economia do mundo e dos Estados Unidos está em desaceleração, mas não em queda forte. Nos países da OCDE, está havendo uma desaceleração suave - comenta o economista José Roberto Mendonça de Barros. Ele lembra que a inflação está baixa no mundo inteiro e o petróleo tende a se estabilizar num patamar mais baixo do que se imaginava: - O mundo está crescendo, o Brasil vai continuar tendo uma balança comercial forte no ano que vem, talvez feche em US$37 bilhões de saldo, os juros internos estão mais baixos, a demanda aqui dentro está crescendo, portanto o cenário não é ruim. Mesmo assim, há muitos riscos, um deles é se o governo achar que ele é que tem que sair investindo para garantir o crescimento de 5%. Isso aumenta o déficit e desequilibra a economia - afirma Mendonça de Barros. |