Momentos de glória e humilhação da história militar dos Estados Unidos, talvez por coincidência, parecem mais depender da geografia do que de quaisquer outros fatores.
Perto de casa, eles não perdem uma: começando com a guerra da Independência, passando pela expulsão dos espanhóis de Cuba, até momentos mais recentes.
Os invejosos dirão que incursões como a invasão de Granada ou do Panamá não deveriam contar, mas a desproporção de forças é da vida: ganha quem pode, rende-se quem tem juízo.
E ninguém nega que os americanos se cobriram de glórias nas duas guerras mundiais.
O outro lado da moeda fica na antiga Indochina, de onde os americanos saíram corridos, com milhares de pessoas brigando por vagas em helicópteros no telhado da embaixada em Saigon. Um desastre parecido está sendo esboçado agora no Oriente Médio.
Salvo nos casos de interferência divina (que saiu de moda nos tempos de Homero), há dois motivos óbvios de derrota militar: para o inimigo mais forte e para a própria incompetência ou desinformação.
Exemplos da segunda possibilidade: Napoleão, ignorando o inverno russo, ou os franceses, acreditando que a Linha Maginot era uma muralha e não um queijo suíço. Os próprios americanos tiveram de sair corridos do Vietnã porque, resumindo um monte de fatores, nunca entenderam que o Vietnã era um país só.
E é óbvio que os riscos de derrota sempre são maiores para quem não entende a natureza do conflito e o perfil do inimigo.
Neste fim de ano, essa parece estar sendo a lição que Washington começa a reconhecer que não aprendeu no Oriente Médio.
Nos últimos dias, o Exército e o Corpo de Fuzileiros Navais iniciaram uma campanha radical: ou um aumento substancial de homens ou os EUA jamais conseguirão atingir seus objetivos políticos e militares na região. Pior, tão cedo não terão recursos humanos para responder a qualquer novo desafio, em qualquer parte do mundo.
Dias atrás, autoridades militares pediram abertamente acesso ilimitado às tropas da Guarda Nacional e aos integrantes da reserva do Exército. O total de homens disponíveis seria superior a 550 mil. Em grande parte, cidadãos civis. Pode ser militarmente necessário, mas politicamente perigoso: mandar mais civis para uma guerra impopular e que tem desmentido todos os prognósticos oficiais pode produzir uma crise política doméstica de impacto imprevisível.
Quem está na arquibancada, nos EUA e alhures, fará bem em resistir à tentação de pensar em quanto pior, melhor. No fim das contas, um beco sem saída para o país mais poderoso do mundo não é bom negócio para ninguém.