BRASÍLIA - O ano acaba hoje. Com ele vão-se o primeiro mandato de Lula e o escudo da "herança maldita". A partir de amanhã, Lula herda Lula, o que equivale a dizer que a responsabilidade aumenta e as desculpas escasseiam.
No primeiro mandato, esfarrapou-se a fantasia nacional de que o PT era mais puro, mais honesto e vinha para mudar. De outro lado, ruiu o discurso de tucanos, de pefelistas, do mercado e dos investidores sobre o "risco-Lula", que vinha para mudar -mas para pior.
Perdeu o PT, ganhou Lula. Tudo o que havia de ruim foi devidamente repartido entre o partido e a "herança maldita": crise ética, ineficiência administrativa, aparelhamento do Estado. Lula não sabia, não tinha nada a ver com isso.
Tudo o que sobrou de bom foi indevidamente concentrado no presidente: a ampliação do Bolsa Família para 11 milhões de famílias, o lucro recorde dos bancos, a estabilidade da economia. Disso, Lula sabia. E tinha tudo a ver.
Poderia ter sido o contrário: Lula culpado pelas crises, pela falta de planejamento, pela festa dos bancos, enquanto FHC incensado pela estabilidade e o sucesso das bolsas de transferência de renda. Mas não foi. A crise de energia de 2001 virou "apagão do FHC", mas a crise aérea de 2006 não foi "apagão de Lula". É que nada de ruim cola em Lula, que tem história, lábia, estrela -o que não acaba no segundo mandato.
Em Brasília, Lula reinando absoluto. Nos Estados, os tucanos Aécio Neves e José Serra consolidando (e disputando) a fama de gestão e competência, e os petistas Marcelo Déda e Jaques Wagner despontando no horizonte sem-Lula do PT.
Se 2006 foi o ano da ética, das balas e das malas perdidas, 2007 precisa ser o do desenvolvimento sustentado, o que implica ação enérgica do Estado nas áreas que são do Estado e pesados investimentos em infra-estrutura. Lula sabe e manifesta isso. Fazer é que são elas.