Eis o espírito que anima a grande maioria dos políticos brasileiros, saída da boca de Semy Ferraz, deputado estadual (PT) em Mato Grosso do Sul, para defender a pensão vitalícia de R$ 22,1 mil para ex-governadores do Estado, aprovada pela Assembléia Legislativa local: "É melhor o Estado proteger o ex-governador do que ele ter que fazer pé-de-meia". Tradução para português franco e direto: "É melhor o governador (no caso, Zeca do PT) continuar mamando nas tetas do Estado do que ser obrigado a sair por aí fazendo trambiques". Fica implícito que as delicadas mãos do governador em fim de mandato não podem ser usadas em qualquer outra atividade remunerada (e honesta) que não seja a de contar as notas que o erário colocará nelas todo mês. Fica explícito que político que se acostumou com a boquinha pública não vai querer outra forma de "fazer pé-de-meia". Aliás, os gordos salários e demais benefícios dos deputados, que chegam a R$ 99 mil mensais, não impediram um belo naco deles de "fazer pé-de-meia" com trambiques vários, desde o mensalão até o esquema de sanguessugas. O argumento de Semy Ferraz é, portanto, cínico e mentiroso ao mesmo tempo. Mas acaba servindo para demonstrar qual é o espírito, nada público, predominante em 9 de cada 10 políticos brasileiros. O mundo político, com o perdão pela insistência, trabalha para ele próprio, legisla para ele próprio, cuida única e exclusivamente de seu próprio interesse, com as exceções (poucas) que apenas confirmam a regra. Megaaumento de salários, pensões vitalícias igualmente obscenas, são apenas decorrência. Como o eleitor só reage tímida e ocasionalmente, o pé-de-meia deles continuará engordando. |