O jornal espanhol "El País" antecipou ontem relatório da ONU sobre mudança climática, elaborado por 2.500 especialistas ao longo de cinco anos. É, certamente, a mais perfeita descrição de um apocalipse iminente. Alguns dados: 1 - A concentração na atmosfera de gases do chamado efeito estufa (que provoca aumento da temperatura) é a maior em 650 mil anos. 2 - Seis dos sete anos mais quentes de que há registro ocorreram a partir de 2001, ou seja, neste século. 3 - O hemisfério Norte perdeu 5% de neve desde 1966. 4 - Nos últimos 45 anos, o mar sobe 0,8 milímetros ao ano. O relatório avisa que parte do aquecimento global já é irreversível e seus efeitos durarão séculos. Mas o apocalipse ainda pode ser evitado, desde que haja ação e que ela seja imediata. O que choca, mais até que os dados alarmantes, é a passividade da comunidade internacional. Para o meu gosto, os sinais de alarme até dispensam informes como o da ONU. Basta ler nos jornais, a intervalos regulares e cada vez menores, que a inundação em tal ou qual país foi a maior em 100 anos ou que as temperaturas na região xis são as mais elevadas em séculos, para desconfiar que algo está fora de lugar -e muito fora de lugar. Mesmo assim, o mundo preferiu, primeiro, ficar discutindo se o aquecimento global era real ou apenas terrorismo de ambientalistas tresloucados. Agora que parece haver consenso generalizado sobre o fenômeno, não há respostas nem rápidas nem eficazes, em parte porque o país que mais emite gases do efeito estufa (os EUA) hesitam em tomar medidas por causa das conseqüências sobre o nível de atividade econômica. Resta torcer para que o relatório da ONU, quando for oficialmente divulgado, não tenha o mesmo efeito efêmero do filme sobre o tema do ex-vice-presidente Al Gore. |