quarta-feira, dezembro 27, 2006

Carlos Heitor Cony - Cadê Braguinha




Folha de S. Paulo
27/12/2006

O Rio amanheceu cantando, toda a cidade amanheceu em flor, os namorados vão para a rua em bando porque a primavera é a estação do amor. A estrela-d"alva no céu desponta e a lua anda tonta com tamanho esplendor e as pastorinhas, para consolo da lua, vão cantando na rua lindos versos de amor.
Branca é branca, preta é preta, mas a mulata é a tal, quando ela passa todo mundo grita: estou aí nessa marmita. Yes, nós temos bananas, bananas para dar e vender, banana menina, tem vitamina, banana engorda e faz crescer. Cadê Mimi, que fugiu para Xangai e do meu pensamento não sai. Conheci uma espanhola natural da Catalunha, queria que eu tocasse castanhola e pegasse touro a unha. Copacabana princesinha do mar, pelas manhãs tu és a vida a cantar e à tardinha ao sol poente deixa sempre uma saudade na gente. Pela estrada afora eu vou bem sozinha, levar esses doces para a vovozinha. Ela mora longe, o caminho é deserto e o lobo mau passeia aqui por perto.
Eu sou o lobo mau, eu pego as criancinhas para fazer mingau, hoje estou contente vai haver festança tenho um bom petisco para encher a minha pança. Vai, com jeito vai, senão um dia a casa cai. Nós somos as cantoras do rádio, levamos a vida a cantar, de noite embalamos seus sonhos, de manhã nós vamos te acordar. Meu coração, não sei por que, bate feliz quando te vê e os meus olhos ficam sorrindo e pelas ruas vão te seguindo, mas, mesmo assim, foges de mim. O povo invade a barca e lentamente, a velha barca deixa o velho cais, fim de semana que transforma a gente em bando alegre de colegiais.
(Para homenagear Braguinha que morreu no último sábado, não encontrei nada melhor do que lembrar a letra de alguns dos seus sucessos que marcaram o meu tempo e a minha saudade).