Folha de S. Paulo |
1/11/2006 |
"O PSDB é a favor do voto distrital", disse Fernando Henrique Cardoso, dispondo-se a discutir uma reforma política com Lula. Como poderia exclamar Fernando Collor em seu inglês típico, "it's potato": entra eleição e sai eleição e a cantilena da reforma política não desaparece. Para ficar no voto distrital, defendido por FHC, a viabilidade operacional da idéia não pára em pé quando se tenta responder a duas perguntas: 1) quem vai dividir os distritos e 2) quantos serão esses distritos? O IBGE fará a divisão, dirão os ingênuos. A letargia dominaria o país. A política entraria em estado de criogênia até 2010, quando finalmente ficaria pronta a nova cartografia eleitoral bananeira. Outro problema é o número de distritos. Há 513 cadeiras na Câmara dos Deputados. Mas os 26 Estados e o Distrito Federal têm 1.059 deputados locais. Ou seja, haverá dois Brasis. Um, dividido em 513 distritos. Outro, em 1.059. Talvez seja lógico unificar essas localidades. Mas ficariam 513 ou 1.059 distritos? Não é um absurdo apostar em 1.059 deputados estaduais e outros 1.059 federais. Em abstrato, o voto distrital parece ser melhor do que o sistema atual. O eleitor, em tese, fica mais próximo dos eleitos. Mas essa proximidade já acontece com os vereadores de cidades pequenas. Nem por isso há menos corrupção nos municípios do interior. Na realidade, a redução dos desvios éticos na política depende pouco de uma nova lei moralizadora. O que estão em falta são valores clássicos como honestidade e justiça. FHC poderia ter dado o exemplo. Preferiu cooptar deputados na bacia das almas. Lula o copiou. FHC e Lula se equivalem. Sabem ser mais cômodo pregar uma reforma política que nunca virá. A culpa, então, será sempre dos outros. |