Folha de S. Paulo
24/11/2006
Viu o discurso de Lula ontem, pedindo para a oposição não fazer oposição?
Disse ele aos governadores aliados, já se preparando para uma reunião com todos os governadores, aliados e adversários: "Se alguém quiser fazer oposição a mim, que faça na eleição de 2010, quando não serei candidato".
Quer dizer que, enquanto o Lula "fortão" e o Lula "fraquinho" presidirem o Brasil, suspenda-se a oposição. Afinal, oposição é coisa para o PT fazer contra os outros, não para os outros fazerem contra o presidente do PT -ops!, que era do PT e agora tem outras, digamos, prioridades partidárias.
E já se lê que a ministra Dilma Rousseff vai centralizar a comunicação, o jornalismo, essas chatices que só existem para incomodar os governos (quando era dos outros, eram ótimas; agora, viraram parte do "complô das elites"). O anúncio, extra-oficial, é de que Dilma pretende "democratizar" a área, mas, como só gosta da notícia oficial, do release, da versão do jeitinho que quer, imagine você o que ela entende por "democratizar"...
Eis que chegamos ao admirável mundo novo lulista: os repórteres não devem reportar, os colunistas não devem opinar, os movimentos sociais não devem se mover, os legisladores só devem legislar o que o Executivo quiser, os procuradores não devem procurar nada que contrarie o Planalto, os governadores não devem reivindicar e a oposição não deve fazer oposição.
O pior é que a oposição, principalmente uma boa parcela do PSDB, parece ser a primeira a aceitar. E quem não está gostando nada dessa história é o PFL.
E é para gostar?
Inscreva-se na Constituição, mas nas disposições transitórias, válidas única e exclusivamente para a era Lula: está proibido reivindicar, cobrar e criticar. Só pode concordar e dizer amém. Amém.