Folha de S. Paulo |
1/11/2006 |
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva preferiu descansar a participar da Cúpula Iberoamericana de Montevidéu. É um erro, se de fato a prioridade da política externa brasileira é o Mercosul e a América Latina. Tudo bem que cúpulas do gênero costumam ser inócuas, além de repetitivas. Mas esta, especificamente, colhe a região em um dos momentos mais complicados desde a redemocratização dos anos 80/90. Há divisões entre os países e dentro de cada país. O maior exemplo é o México, que saiu da eleição rachado praticamente ao meio, em termos políticos, e tem que mandar tropas federais para conter um conflito gravíssimo em Oaxaca. Aqui mesmo, no Uruguai, o presidente Tabaré Vásquez precisou de toda a sua habilidade para pôr fim a uma greve de caminhoneiros que parte da esquerda que o apóia logo associou ao locaute dos camionheiros chilenos, que representou o começo do fim do governo constitucional de Salvador Allende. Claro que a comparação é fora de contexto. O fim da Guerra Fria limitou muito o espaço para conspirações à margem da legalidade. A solidez das instituições democráticas é a melhor notícia que o subcontinente produz. "A democracia goza de boa saúde", diz Enrique Iglesias, secretário-geral iberoamericano, para agregar: "Mas tem gripes, que não matam, mas debilitam". Também o processo de integração regional, menina dos olhos da diplomacia brasileira, tem lá suas "gripes". Entre elas, o fato de "ser a cúpula com as piores relações pessoais entre os presidentes que dela participarão", como diz Miguel Ángel Aguilar, da Associação dos Jornalistas Europeus. Lula, que tem boas relações ecumenicamente, à direita e à esquerda, poderia, revigorado pelas urnas, exercitar algo da liderança que ficou obscurecida pelos escândalos dos últimos 20 meses. |