NO PRÓXIMO dia 20 de janeiro completam-se cinco anos desde que foi encontrado o corpo de Celso Daniel, prefeito petista de Santo André. Sabe-se agora que a polícia paulista arquivou, em setembro passado, o inquérito que abrira com a finalidade de identificar novos envolvidos no crime.
É de estranhar a justificativa da delegada responsável para abandonar as buscas. Alega que a Promotoria e a família de Daniel "não apresentaram (...) indício que redundasse em prova".
Ora, é da polícia a tarefa de investigar, e não dos irmãos do prefeito. Se a missão também cabe ao Ministério Público, o fato é que a delegada negou 10 dos 16 pedidos de diligência feitos pelo promotor do caso. Também se recusou a pedir a quebra do sigilo de 34 telefones que, segundo um de seus investigadores, seriam a "melhor pista" para lançar luz sobre os responsáveis pelo cativeiro do político do PT.
Há fortes indícios de que, à época da gestão Daniel, uma máfia integrada por pessoas próximas ao prefeito atuava em Santo André cobrando propina a concessionários municipais. Ficou pelo caminho a promessa de depoimento de um dos envolvidos no seqüestro, que disse ter conexões no círculo de Daniel -a testemunha foi morta na prisão, seguindo o destino de nada menos que cinco pessoas relacionadas ao caso, que morreram em circunstâncias estranhas.
Resta a denúncia dos promotores na primeira instância da Justiça, estabelecendo conexão política para o homicídio. Mas a sua seqüência depende de o Supremo Tribunal Federal decidir se o Ministério Público pode ou não conduzir investigações penais.
Se a corte disser não, os indícios de que a morte de Celso Daniel está ligada a uma trama de financiamento de campanha correrão o risco de virar pó sem que tenham sido descartados nem confirmados. Seria um desfecho indigno para as instituições policiais e judiciais brasileiras.