MONTEVIDÉU - O noticiário on-line de ontem estava febril: falava em disputa pelo comando da economia, no segundo governo Lula, e até informava que o tal de mercado aguardava definições.
Suspeito que tenha dado contribuição pessoal para esse movimento ao publicar, no dia 19, texto de capa em Dinheiro em que antecipava o que se tornou público no fim de semana da votação e logo após divulgado o resultado: o segundo governo Lula, se tudo der certo, troca a ortodoxia do "paloccismo" pelo "desenvolvimentismo".
Convém, no entanto, explicar algumas coisas antes que a cultura "fast food" passe a idéia de que se prepara um novo Plano Real, Cruzado ou coisa parecida. Não é nada disso. Não há, no governo, a mais remota intenção de mexer no serviço da dívida, que consome fabulosos 8,5% da pobre economia tupiniquim.
O governo acredita que basta reduzir os juros (a 5% reais ou 9% nominais, até o fim de 2007) para que se produza o espetáculo do crescimento, reiteradamente anunciado e jamais encenado.
É possível que haja também alguma mexida no câmbio, para produzir a combinação que a maioria dos economistas acha virtuosa, qual seja, juros baixos e moeda desvalorizada. Não sei como, mas sei que não será nada a fórceps.
Há quem acredite que o "desenvolvimentismo" só virá se Henrique Meirelles for afastado do Banco Central. Mas há, no governo, quem ache que basta afastar os diretores do BC mais escandalosamente pró-mercado.
Tudo somado, o que vem aí, se vier, é, no máximo, uma inflexão, jamais uma revolução.
PS - Estou em Montevidéu para fórum de jornalismo, a convite da Corporação Andina de Fomento, da Associação dos Jornalistas Europeus e da Fundação Novo Jornalismo Iberoamericano, presidida por Gabriel García Márquez.